UOL: Quase
todos os clubes de elite do futebol brasileiro trocaram de centroavante na
virada de 2017 para 2018. E a afirmação não é nenhum exagero: nomes como
Ricardo Oliveira, Henrique Dourado, Jô, Roger, Fred, Pratto, Barrios, Tréllez e
Rafael Moura agitaram o mercado da bola ao se transferirem e mudarem o cenário
dos camisas 9 no país.
Toda
esta movimentação levou o UOL Esporte a ouvir especialistas e tentar entender o
assunto. Entre as versões defendidas para explicar o fenômeno estão o sistema
de jogo mais focado no aspecto defensivo do futebol atual, a falta de paciência
de clubes e torcedores, a ausência de nomes de seleção ou jovens promessas em
afirmação e também um tema levantado por Serginho Chulapa, artilheiro do
Campeonato Brasileiro de 1983 e hoje auxiliar técnico do Santos: a posição está
ameaçada pelas novas dinâmicas do jogo.
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Foto: Divulgação |
Entre
o fim de 2017 e os primeiros jogos oficiais de 2018, as transferências de
centroavantes foram intensas. Ricardo Oliveira trocou o Santos pelo
Atlético-MG, que negociou Fred com o Cruzeiro e Rafael Moura com o América-MG.
O Corinthians perdeu o artilheiro Jô, mas tirou Júnior Dutra do Avaí. Nos
clubes do Rio de Janeiro, forte movimentação: Henrique Dourado trocou o
Fluminense pelo Flamengo, que vendeu Felipe Vizeu, e Luis Fabiano não deve
seguir no Vasco. O Botafogo perdeu Roger para o Internacional, mas compensou
tirando Kieza do Vitória, que também negociou Tréllez com o São Paulo, que
havia vendido Pratto. O Bahia contratou o ex-santista Kayke, a Chapecoense
perdeu Túlio de Melo para o futebol japonês e o Grêmio liberou Barrios para o
Argentinos Juniors. Ufa!
Mas o
mercado dos artilheiros ainda não encerrou atividades justamente por conta do
Grêmio. André, goleador do Sport na última temporada, tem conversas com o time
gaúcho e pode se transferir nos próximos dias. Seria o 16º nome do
"feirão" de camisas 9 porque obedece ao perfil traçado pelo
diretor-executivo André Zanotta para jogadores deste setor e cumpriria a dura
missão de repor a saída de Barrios.
"Tem
sido sim uma missão muito difícil (contratar centroavante). Além da dificuldade
de encontrar atletas com a qualidade técnica exigida para um clube de ponta,
quando encontramos, os valores pedidos são fora da realidade financeira do
clube. Quanto às características da posição, depende muito da forma como o
treinador quer trabalhar. Entendo que, hoje, um atacante tem que ter bastante
mobilidade, saber criar espaços para os companheiros, além de ser eficiente na
bola aérea", descreve o dirigente.
Posição virou debate acadêmico
A
expansão dos cursos de formação de treinadores, gestores e analistas pela
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) aumentou também o debate acadêmico
sobre o futebol brasileiro. Um dos temas constantemente em discussão é o
possível "desuso" dos centroavantes no modo como conhecemos. Além da
questão mercadológica, de o clube contratar um jogador por oportunidade de
mercado, o país vive um momento em que há valorização do futebol reativo, de
marcação intensa sem a posse de bola e contra-ataques. Ou seja: se o time tem a
bola no pé menos tempo, o centroavante terá menos chances de marcar. E quando a
bola chega ele não pode errar.
"No
Brasil existe uma cultura de imediatismo de resultados. Se tem pouca paciência
quando o resultado não vem. O papel do dirigente, nesta situação, é sempre
passar confiança ao grupo ou ao atleta, especificamente, para que ele possa
estar focado em buscar seu melhor rendimento. Sabemos que o torcedor é
passional e, com a mesma rapidez que reclama, quando a bola volta a entrar, ele
vai abraçar o atleta e defendê-lo até o fim", diz André Zanotta.
Solução pode ser caseira?
Em
meio às transferências de centroavantes no futebol brasileiro, poucos nomes
jovens ou revelados nas categorias de base dos clubes têm conquistado espaço. O
ex-jogador Serginho Chulapa observa o fato e propõe uma solução para o rodízio
de camisas 9: dar oportunidades aos garotos.
"Centroavante
está escasso, é só ver que os jogadores que movimentaram o mercado são acima de
30 anos. E os outros? Não tem. Temos que formar centroavante, ver, lançar, não
ter medo dessa molecada que está vindo, porque centroavante está em falta. Hoje
os jogadores já consagrados é que são procurados por todos os times do Brasil e
existe alguma coisa errada por trás disso".
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