REPÚBLICA PAZ E AMOR: Foi um início de Campeonato Brasileiro de tirar o fôlego, amigos do
esporte. O Flamengo levou tão somente 16 segundos para marcar seu primeiro gol
por intermédio de Paquetá. Em compensação, teve que esperar quase 10 minutos
inteiros para ser assaltado à plena luz do dia (metafórico) pela primeira vez
no campeonato. Vivemos sob um alarmante estado de insegurança total. Inclusive
jurídica. Nem vou falar do jogo, pra não ficar puto. Que todo mundo viu a merda
que foi e, mesmo com um a menos por 80 minutos, empatar com o vitorinha,
candidato ao rebaixamento desde 2017, é uma vergonha. Por isso que a torcida já
providenciou uma faixa nova pra arquibancada: Brasileiro é Aporrinhação. Vou me
concentrar no barraco, que foi muito mais legal e educativo.
Disse
uma vez um jurista de grande calado, para exaltar o enciclopédico conhecimento
das leis e demonstrar a infinita capacidade hermenêutica dos 11 craques de capa
preta da nação, que o STF é um campeonato Brasileiro com 11 Fluminenses. E da
blague podemos inferir, sem necessidade de maiores proezas imaginativas, o quão
duro é para o Flamengo disputar um campeonato com 18 times aspirando ser o
próximo a escapar de punições merecidas pelos arcanos caminhos das franjas e
drapeados da toga da Justiça tantas vezes percorrido com êxito pelo coirmão
tricolor. Uma coisa é certa, no Brasileiro o Flamengo não tem amigos. Somos nós
contra a putada inteira.
O Flamengo foi muito roubado. E tudo dentro do quadrado normativo. A penalidade máxima foi concedida pelo ínclito Wagner Reway baseado n’algum artigo não canônico da Regra 14 que reza que bolada no meio da cara do malandro dentro da área é pênalti nos casos em que os juízes, no caso a equipe de arbitragem, forem portadores de ampla ou branda região glútea. Tudo na lei. Mas se houvesse uma mísera gota de fair-play correndo nas veias dos jogadores do genérico baiano e o pênalti teratológico seria cobrado deliberadamente para fora. Mas o vitorinha, miniaturizado, empatou na mão grande, com Supremo, com tudo. E tinha mais, o malandro que levou a bolada na cara teve que ser punido com a expulsão. E assim contabilizamos nessa pátria mãe gentil mais um inocente condenado por um crime que não cometeu.
É isto
que acontece quando não vivemos sob os estritos ditames do princípio da
segurança jurídica, também conhecido como princípio da confiança legítima
(proteção da confiança), um dos subprincípios básicos do Estado de Direito. É
um efeito cascata, começa pelos malfeitos dos poderosos na cara-de-pau que
jamais são punidos e as mamãezadas vão se reproduzindo de escalão em escalão.
Até chegar aos sacros relvados onde exercemos nossa brasilidade em toda sua
plenitude e malemolência. Em uma formulação mais pedestre, a esculhambação com
as leis e a prática continuada do roubo pelos mão-grandes estão disseminados no
país e contaminaram o futebol. É até curioso tanta gente falando, em tom de
genuína indignação, que o Flamengo votou a favor do árbitro de vídeo e o
Vitória votou contra. Como se hoje em dia o voto ainda valesse alguma coisa no
Brasil.
Na sua
Cantata de Paz, a poetisa portuguesa Sophia de Mello Breyner Andresen dizia:
Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar/ Vemos, ouvimos e lemos, não
podemos ignorar. Por isso bradamos, com a legítima indignação dos inocentes,
que o Flamengo é mais roubado que os outros. A injusta perseguição dos maus ao
Mais Querido ofende nossos sentidos e princípios, ainda que não tanto quanto o
silêncio dos bons, que ao perdoarem os lobos condenam não ao Flamengo, mas a
todas as ovelhas. É uma questão que já ultrapassou as complexidades intangíveis
das afeições clubísticas, reduziu-se a uma mera questão moral.
E
diante do descalabro do Barradão o que diria o simplório primitivo que se dá
por satisfeito em explicar o mundo em constante mutação munido apenas da 3ª Lei
de Newton? O primitivo diria, peremptório, – O Flamengo é o mais roubado porque
não tem força política na CBF. Entre muxoxos de aprovação e o balançar de
cabeças de sua roda de amigos o simplório Cro-Magnon ergueria seu chopp como se
fora a taça da sabedoria em um brinde ao seu poder de síntese. Satisfeito com
seu reducionismo vulgar, como se para os dirigentes do futebol brasileiro fosse
impossível terem os jogos de seus clubes arbitrados com lisura e dentro das
regras sem que se locupletassem com os gangsters confederativos. Uma
argumentação muito popular que, entretanto, só tem serventia para resenhas em
botequins ou entre adolescentes espinhudos.
Ao
ouvir tal sandice de salão o observador atento e de mente aberta, mas jamais
isento, consciente da ignorância seletiva intrínseca à condição de torcedor,
mas que não se perde na fulanização das fugazes conjunturas políticas, um
analista capaz de estender sua visão para além da paixão clubística e
contemplar o quadro geral em sua amplitude, retrucaria na mesma hora, pondo-se
de pé enquanto ajeita os óculos sobre o nariz: – O primitivo está certo! O
Flamengo é o otário da mesa.
Somos
os otários! Uma condição abjeta que repelimos enfaticamente, mas que parece ter
se naturalizado entre nossos jogadores. Ao contrário do que as imagens
mostraram, o ponto baixo da noite não foi a altura alcançada pelo salto de Juan
no gol de empate dos caras (checar GPS). O ponto mais baixo da noite foi quando
o capitão Rever, ao fim do jogo, em constrangedora demonstração sintomatológica
da Síndrome de Estocolmo, declarou que “A gente tem que ajudar a arbitragem
para não ser sempre a culpada de tudo”. Oh, céus! Os defensores do Flamengo são
indefensáveis. Esses filhos-de-vó simplesmente não aprendem a ficar calados!
#EvertonRibeiroLivre
Mengão
Sempre
ARTHUR
MUHLENBERG
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