ANDRÉ
ROCHA: Dorival Júnior foi anunciado oficialmente na sexta à noite, saiu de
Florianópolis e chegou a Salvador na madrugada do sábado. Concedeu coletiva
pela manhã e às 21h estava à beira do campo para comandar o Flamengo contra o
Bahia.
O
empate sem gols vai para as estatísticas como a sua estreia, mas o trabalho
começa mesmo a partir de segunda. A missão é clara: onze jogos para tirar o
time agora da quinta colocação do Brasileiro e entregar o título relevante
esperado pela gestão Bandeira de Mello desde a Copa do Brasil 2013. Para isso
há três grandes desafios e um enorme obstáculo, o maior de todos.
A
primeira meta muito clara é tornar o time menos lento. Na transição defensiva a
equipe até tem um comportamento interessante assim que perde a bola: pressiona
e tenta retomá-la o mais rápido possível. Mas quando o adversário consegue sair
dessa ''blitz'' a recomposição é vagarosa, deixando espaços generosos entre os
setores.
Técnico Dorival Júnior - Foto: Staff Images |
Falta
também uma referência de velocidade para os contragolpes. Como era Vinícius
Júnior. O desafogo, o atacante que intimida a defesa adversária a acompanhar o
avanço dos outros setores. Não é Vitinho, nem Marlos Moreno. Pode ser Berrío,
incógnita pelo longo tempo de inatividade em função de uma grave lesão.
O
outro grande desafio é transformar domínio em gols. O melhor desempenho da
equipe na temporada foi o segundo tempo contra o Grêmio no jogo de ida pela
Copa do Brasil. Mais de 70% de posse de bola, muito volume de jogo.
Finalizações também, mas sem a chance cristalina. Porque é raro o ataque bem
construído, com começo, meio e fim. A jogada trabalhada que chega ao fundo e
serve o atacante bem posicionado. Acabamento perfeito: assistência e
finalização. No Fla é raríssimo. Aconteceu no gol do Lincoln.
A
queda pós-Copa do Mundo tem a ver com a ausência da joia que partiu para o Real
Madrid, mas passa também pela maior dificuldade dos jogos. No returno a grande
maioria já sabe qual é o seu objetivo no campeonato e as partidas ficam mais
duras, disputadas. Os adversários entram em campo com a certeza de que o
Flamengo vai se instalar no campo de ataque e tocar a bola. Negam os espaços
para infiltração e exploram os espaços cedidos. A proposta de jogo exige mais
eficiência no ataque.
A
média de finalizações necessárias para fazer um gol no campeonato nem é tão
alta: 9,1. Igual a do Internacional e abaixo apenas de São Paulo, Atlético
Mineiro e Palmeiras. Mas em jogos grandes, parelhos é nítida a dificuldade para
ir às redes.
O
terceiro aspecto que precisa de uma melhora urgente é a força mental. O
Flamengo é um time pressionado por torcida e boa parte da imprensa, mas carrega
muitas frustrações recentes. Desde 2015, quando a capacidade de investimento
aumentou, o clube conquistou apenas o Carioca de 2017. Só. As seguidas eliminações
e derrotas em finais criaram um estigma de perdedor em boa parte do elenco.
Para
piorar, a postura de Bandeira de Mello é de muito carinho e quase nenhuma
cobrança. Não precisa fazer terrorismo, mas um elenco caro, com salários em dia
e boas condições de trabalho, pode e deve entregar mais. Sem vitórias para
respaldar, algumas lideranças ganharam poder para, por exemplo, manter Mauricio
Barbieri como treinador. Exatamente porque o jovem profissional ficaria
''refém'' dos atletas e seria mais permissivo, assim como aconteceu com Zé
Ricardo.
Na
prática, os jogadores desanimam fácil nas partidas e se acomodam no dia a dia.
Um cenário terrível para uma camisa pesada, com tanta história e visibilidade.
Justamente o oposto dos momentos mais vencedores do clube.
O
grande obstáculo para Dorival Júnior é o tempo. Dois meses para lidar com
tantos problemas e ainda o cenário político conturbado por conta da eleição,
com a situação desesperada pela glória no último instante para garantir a
vitória do sucessor de Bandeira. Ainda que o treinador ganhe algumas semanas
livres para recuperar e treinar parece pouco. A solução deve ser foco total no
desempenho, blindar os jogadores do extra-campo e trabalhar jogo a jogo. Só
metas a curto prazo, até porque o longo não existe.
Dorival
terá que subverter o seu último trabalho, no São Paulo. Sofreu com os mesmos
problemas no Morumbi e sucumbiu. O tempo fora do mercado pode ter ajudado a
entender a sua cota de responsabilidade no fracasso. É preciso fazer diferente.
A atuação ruim em Salvador, especialmente no primeiro tempo, foi o choque de realidade que faltava. Agora
é trabalhar para virar quase tudo do avesso e fazer história.
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