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GLOBO: Por Luiz Cláudio Latgé
As
coisas mudam e com o tempo a gente perde a ligação com o começo de tudo. Nos
desligamos da nossa história e não sabemos mais reconhecer nossas origens, a
essência dos nossos clubes, o rubro-negro da Gávea, o tricolor da rua Álvaro
Chaves, os cruz-maltinos de São Januário, o alvinegro de General Severiano.
Flamengo,
Fluminense, Vasco e Botafogo são grandes expressões do futebol brasileiro, têm,
cada um, mais de 100 anos de existência e de conquistas. Na origem, os clubes
representavam suas comunidades, por isto têm nomes de bairros ou representam
colônias de imigrantes, como o Vasco da Gama dos portugueses.
Faz
tempo que caíram essas fronteiras. Os grandes times têm torcedores por toda
parte. Neste ambiente, foi preciso encontrar outros valores. O time da raça, o
time do futebol-arte, a máquina. As bandeiras dos clubes começaram a carregar
valores intangíveis, confirmados pelo grito da torcida, a cada partida.
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Foto: Gilvan de Souza |
O
Flamengo é a exceção, numa jornada em que esteve à frente da tabela metade do
campeonato e nunca se afastou das primeiras posições. Fez uma dúzia de jogos
para mais de 50 mil pessoas, no Maracanã reaberto. Nenhum outro time brasileiro
atingiu esta marca.
O
maior patrimônio de um clube é a sua torcida. E os clubes não podem se esquecer
do que leva o torcedor aos estádios ou faz com que ele se mobilize diante da
TV. Ter um time capaz de disputar um título é a melhor receita.
Na
reta final do Brasileirão, o Flamengo sonha com o título. O Fluminense
encontrou uma janela no pelotão intermediário. Vasco e Botafogo jogarão até a
última rodada para escapar do rebaixamento. O risco que correm, hoje, vai além
da vaia por um fracasso em campo. É a destruição dos valores do clube.
O
torcedor quer ver seu time honrar a camisa, vestir os valores do clube. Nem
sempre vai ganhar. Por isso, não é raro ver a torcida aplaudir uma equipe na
saída após uma derrota. Perder faz parte do jogo. O torcedor quer torcer,
vibrar, disputar cada lance como se estivesse em campo. Quer ter orgulho de
fazer parte de uma paixão. Quer entrega, raça e alegria.
No
sábado, o Flamengo decide seu destino no Brasileirão contra o Palmeiras, no
Maracanã. Será o jogo do ano, no estádio mais emblemático do mundo. O endereço
da maior torcida do Brasil, a casa do torcedor carioca. Será o jogo da torcida.
Nas
últimas temporadas, a coluna me deu a chance de compartilhar com você, leitor,
o olhar do torcedor diante de seus clubes. Daqui em diante, nos vemos nos
estádios.
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