GLOBO
ESPORTE: O talento embaixo das traves é proporcional à personalidade forte
dentro e fora de campo. Em 15 meses de Flamengo, Diego Alves viveu uma gangorra
de emoções. Altos e baixos marcaram até aqui a trajetória do goleiro, que tem
contrato até 2020, mas o futuro indefinido.
Contratação
de impacto no meio do ano passado, Diego Alves trouxe grandes defesas, teve
falhas esporádicas, passou por grave lesão e polêmicas. A última delas coloca
seu futuro com a camisa rubro-negra em xeque. Ao se recusar a viajar no último
sábado para Curitiba ao saber que ficaria no banco contra o Paraná, o goleiro
pode ter colocado um ponto final em sua história no Flamengo.
![]() |
Foto: Igor Rodrigues |
Não é
novidade na carreira de Diego Alves se indispor com o banco de reservas. Em
2013, no Valencia, o goleiro não aceitou ser barrado pelo técnico interino Nico
Estévez e contestou a decisão. Segundo a imprensa espanhola, o brasileiro
gritou com o treinador, gerou um grande mal-estar e foi multado. No ano
passado, um dos motivos em que decidiu voltar ao Brasil foi o fato de não ter a
titularidade assegurada no clube europeu.
Traços de liderança e opiniões divididas
Com
traços de liderança que ficaram evidentes desde a chegada ao Flamengo, Diego
Alves ganhou a torcida com a boa forma chegando após as primeiras partidas, mas
também pela postura de capitão sem faixa dentro e fora de campo.
O
jogador tem personalidade forte e, embora seja reconhecido como líder nato por
isso - com influência e audiência nos demais líderes do elenco -, ele divide
opiniões num grupo naturalmente heterogêneo de jogadores.
Diego
Alves geralmente é mais sério, calado e não costuma andar em grupos, como é
comum entre jogadores. Há o grupo dos gringos, os “crias” da base, outro dos
mais experientes. Alves não tem inimizades, longe disso, mas há resistência ao
jeitão que às vezes aparenta mau humor, misturado com certa “marra”, como dizem
os boleiros.
-
Vocês veem os caras lá na Europa fazendo e querem fazer tudo igual né? - disse,
em certa ocasião, quando avistou os garotos da base tentando repetir vídeo de
Cristiano Ronaldo de chutar bolas em sequência no travessão.
Esta
postura que incomoda alguns atletas faz parte do modo Diego Alves de ser. Em
entrevistas coletivas e zonas mistas, o goleiro é observador ao ouvir as
perguntas e costuma corrigir ou rebater o que considera incorreto.
No
famoso episódio do café arremessado em torcedores de organizada - no aeroporto
do Galeão -, Diego Alves mostrou irritação ao ser questionado sobre o tema em
coletiva no Ninho. Desviou do assunto e não respondeu a repórter na entrevista
coletiva.
Chegada para ''salvar a pátria''
A
chegada de Diego Alves foi festejada e trouxe alívio ao torcedor do Flamengo.
Muralha vinha questionado e colecionando falhas. Substituto, Thiago também não
passava a confiança necessária para ser o titular da posição.
Em uma
operação onde pesou a vontade do jogador de atuar no clube, o Rubro-Negro
acertou a contratação junto ao Valencia. Sob enorme expectativa, o goleiro ''se
apresentou'' em vídeo ao vivo reproduzido pelo Flamengo em suas redes sociais.
Diego
Alves estreou no fim de julho do ano passado, no empate em 1 a 1 diante do
Corinthians, em São Paulo. O goleiro não pode atuar na Copa do Brasil de 2017,
pois não estava inscrito, e viu do lado de fora do campo o Rubro-Negro perder
na final para o Cruzeiro, após disputa de pênaltis - Muralha era o titular na
decisão do Mineirão. No jogo de ida, no Maracanã, o gol da equipe mineira foi
marcado por uma falha do goleiro Thiago.
Lesão o tirou de final da Sula...
Titular
absoluto no gol rubro-negro, uma lesão tirou Diego Alves dos campos em novembro
de 2017. Por conta de um choque com um jogador do Junior de Barranquilla, na
partida de ida da semifinal da Sul-Americana, o goleiro teve uma fratura na
clavícula, passou por cirurgia e perdeu o restante da temporada - assim como os
primeiros jogos de 2018.
... e fez César ressurgir
Muralha
o substituiu no decorrer daquele jogo. Demorou 54 segundos em campo para sofrer
um gol. Não bastasse a pressão, falhou duas vezes no jogo seguinte, diante do
Santos, pelo Brasileirão. Com Thiago lesionado, o então treinador Reinaldo
Rueda fez ressurgir César, que não jogava há quase dois anos. Titular no jogo
de volta da Sul-Americana, ele teve atuação segura e, inclusive, defendeu um
pênalti. Com isso, assumiu a meta até o retorno de Diego Alves.
Presença de Julio César
No
começo do ano, o Flamengo abriu as portas para Julio César. Com contrato curto
e salário considerado simbólico, ele atuou em três partidas para se despedir do
futebol no clube que o revelou. Julio deixou claro que não vinha para ''pegar
ou disputar'' vaga. Nas partidas em que atuou, Diego Alves sequer foi
relacionado.
Cafezinho no aeroporto
Diego
Alves demorou um pouco a apresentar seu melhor repertório, mas sempre foi um
goleiro seguro e titular para nove entre 10 rubro-negros. A primeira grande
polêmica no Flamengo ocorreu durante um protesto no aeroporto, durante embarque
para Fortaleza, no fim de abril. Os jogadores ficaram acuados pela torcida, e
Diego arremessou um copo de café em um integrante de uma torcida organizada.
O caso
repercutiu mal, mas foi rapidamente abafado pela vitória por 3 a 0 contra o
Ceará, no dia seguinte, que colocou o Flamengo no topo da tabela, com boa
atuação do goleiro.
Melhor fase: um gol em 12 jogos
O
melhor momento do Flamengo no ano teve Diego Alves como um dos protagonistas.
Impecável, o camisa 1 ajudou a colocar o time na liderança do Brasileiro antes
da parada para a Copa do Mundo. Em 12 jogos, sofreu apenas um gol. Foi decisivo
em alguns jogos com grandes defesas.
Falhas
Assim
como quase todo o time, Diego Alves caiu de rendimento após a Copa. Teve bons
momento, com boas defesas, mas também falhas importantes. Foi assim contra o
Ceará, na derrota por 1 a 0 no Maracanã, e também na eliminação para o
Corinthians, na Copa do Brasil, quando caiu atrasado no chute de Pedrinho. Na
ocasião, estava machucado por conta de uma lesão na coxa desde o início do
jogo, mas seguiu em campo. O problema físico o tirou da ativa por três semanas.
Rebeldia
A
polêmica aconteceu em seu regresso. Diego Alves foi reintegrado ao elenco na
semana passada, treinou normalmente por cinco dias e acreditava que retornaria
normalmente ao posto de titular. No último sábado, horas antes do embarque para
Curitiba, ele foi comunicado que ficaria no banco de César. Ele não reagiu bem
à notícia e disse que não viajaria.
Desde
então, o clima interno não é favorável ao goleiro. Ele treinou segunda e terça,
mas separadamente do elenco. Nesta quarta, segundo a direção, estará em campo à
disposição de Dorival. Dificilmente, no entanto, recuperará o status de titular
com o treinador.
Postar um comentário