ESPN:
Por Gabriela Moreira
Perda
de sócio torcedor, de faturamento com bilheteria, de ganhos com patrocínios e
milhares em premiações por títulos. É o resumo da falta que Guerrero fez ao
time do Flamengo na visão do clube que ingressou na noite de quinta-feira com
uma nova ação contra o atleta e, agora, contra a Federação Peruana de Futebol
(FPF), também.
O
clube sustenta que foi lesado pelo doping do peruano, enquanto o jogador estava
sob os cuidados da federação de seu país, e faz a lista de tudo o que deixou de
ganhar com a ausência dele em campo. Além das perdas materiais, da ordem de
milhões de reais, a ação também pede indenização por danos morais que o caso
provocou à imagem do rubro-negro. Esta é a primeira ação contra a FPF. Um outro
processo está sendo movido pelo Flamengo contra Guerrero, também na esfera
cível, mas cobrando a devolução de R$1,8 milhão recebido pelo jogador pelo uso
de sua imagem, nos 121 dias em que ficou suspenso.
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Leonardo Fernandez/Getty Images |
Esta
nova ação tramitará na 12ª Vara Civel do Rio de Janeiro. Nela, os autores pedem
indenização de R$ 200 mil por danos morais, além de condenação pelos danos
materiais a serem calculados.
Entre
os documentos anexados ao processo, estão planilhas que demostram a queda de
faturamento após a derrota na final da Copa Sul-Americana e o que o clube
deixou de ganhar se Guerrero estivesse em campo. Entre as perdas apontados
estão menos 25 mil sócios torcedores, que equivaleram a menos R$ 8,5
milhões.
"Não
fosse o bastante, os patrocinadores, sobretudo a Caixa Econômica Federal,
deixaram de aumentar as verbas destinadas ao clube", argumentam os
advogados do clube na ação.
Ainda
sobre a redução de sócios torcedores, nos documentos juntados um número chama a
atenção. Em dezembro do ano passado, no mês imediato após a notícia de que fora
pego no exame anti-doping foram 149 cancelamentos. Já em janeiro, primeiro mês
da temporada sem contar com o peruano, o número saltou para 17.971 planos
cancelados.
O
clube argumenta que grande parte destas perdas, assim como diminuição de vendas
de produtos, foram decorrentes dos resultados em campo, prejudicamos pela
ausência do camisa 9.
"Isso
tudo sem contar o abalo do psicológico dos demais jogadores, que se viram
diante de uma final de campeonato internacional sem o “camisa 9”, fato este que
certamente desestabilizou todos os envolvidos. Pior do que isso, a falta do
centroavante do time, jogador de maior prestígio contratado pelo Clube – e
justamente por um motivo tão torpe (dopagem) – fez com que os adversários se
sentissem muito mais confiantes para enfrentar o Flamengo, sendo certo que tal
situação contribuiu para que as chances de ganho do Flamengo fossem
reduzidas", afirmam na ação.
O
desempenho técnico de Guerrero antes e após a suspensão também foi analisado
como de responsabilidade do doping. De acordo com dados apresentados pelo
clube, o rendimento em gols marcados após a volta da suspensão foi 1/3 do que
antes do problema.
"vale
dizer que a média de gols do Guerrero por jogo disputado caiu de cerca de 0,45
gols para apenas 0,14 após a primeira suspensão aplicada pela FIFA",
analisam os autores.
O
centro da argumentação do Flamengo é que Guerrero agiu de forma displicente e
negligente, assim como a Federação Peruana, ao permitir que o atleta ingerisse
o chá com substâncias de cocaína.
"Embora
Guerrero estivesse exclusivamente sob os cuidados e à disposição da FPF na data
do ocorrido, o Flamengo foi diretamente atingido pelas consequências advindas
da ilicitude apurada. Assim, especificamente em relação ao Flamengo, Guerrero
não pôde participar de dois dos principais jogos disputados pelo Flamengo
naquela temporada: a semifinal e a final da Copa Sul-Americana, o primeiro
contra o Junior Barranquilla e o segundo contra o Independiente. De igual modo,
Guerrero não pôde atender aos jogos do Campeonato Brasileiro e, logicamente,
participar da rotina de treinos e de preparação física".
Responsabilidade da FPF
"Fato
é que, ao convocar e utilizar o atleta, a FPF se comprometeu a guardar pela
saúde, probidade e boa imagem, garantindo que este retornasse ao CRF íntegro e
apto a exercer as suas atividades".
Danos materiais e morais à imagem do clube
"Como dito inicialmente, o Flamengo
investiu cerca de R$40.000.00,00 (quarenta milhões de reais) para ter o
primeiro réu como um de seus principais jogadores. Evidentemente, este
investimento foi realizado na expectativa de que o retorno viesse em títulos,
atração de novos patrocinadores e, sobretudo, prestígio".
"Com efeito, ainda que o primeiro réu não
tenha consumido a droga (o Flamengo não pretende fazer crer o oposto), os
impactos advindos da dopagem pelo uso de tal substância foram extremamente
negativos para a imagem do Clube, contrariando fins sociais que são pregados
pela atual gestão do Flamengo".
"Durante
o período em que o fatídico permaneceu na mídia, diversas foram as notícias
vinculando o Flamengo ao doping do primeiro réu, ofuscando outros temas
hodiernos e igualmente relevantes (do ponto de vista social e desportivo) que
poderiam ter contribuído para enaltecer a atuação e a imagem do Clube dentro e
fora de campo".
Perda de sócios torcedores, queda em
vendas e chacota
"Em
razão do ilícito, contudo, nada disso ocorreu. Ao revés, o Flamengo passou a
suportar uma queda de desempenho considerável, arcar com perdas de sócios
torcedores e redução da venda de produtos, além de ter virado motivo de chacota
por ter o seu principal jogador do elenco vinculado ao consumo de substância
metabólica da cocaína, consoante as inúmeras reportagens veiculadas na
mídia"
"Portanto,
em razão da conduta negligente dos réus – diametralmente oposta às condutas do
CRF, que garante, com excelência, a integridade física de seus atletas –, o
real e único prejudicado neste imbróglio foi o Flamengo, que, além de ter sofrido
com a ausência de um de seus principais jogadores na final da Copa
Sul-Americana, no Campeonato Brasileiro e no Campeonato Carioca de 2018 (fato
este que não se estendeu à FPF, que contou com o Guerrero em todos os jogos
oficiais), não teve o retorno financeiro e midiático esperado com a contratação
do primeiro réu e, ainda, arcou com a mácula de sua imagem ao ter um de seus
principais nomes vinculado ao uso de substância proibida no esporte"
"Após
a derrota na Copa Sul-Americana, o Flamengo perdeu cerca de 25.000 (vinte e
cinco mil) sócios torcedores (doc. 15), o que representa uma perda monetária de
aproximadamente R$ 8,5 milhões. Não fosse o bastante, os patrocinadores,
sobretudo a Caixa Econômica Federal, deixaram de aumentar as verbas destinadas
ao clube"
"Nos
dias que seguiram após a final da Copa Sul-Americana, bem como durante o
Campeonato Carioca de 2018, o Flamengo experimentou uma queda na venda de
produtos com a sua marca, o que será oportunamente confirmado em instrução
probatória. Demais disso, houve uma queda de bilheteria considerável durante o
campeonato estadual, quando comparado com o mesmo período no ano anterior, no
qual o Guerrero jogou praticamente todas as partidas".
Premiações não conquistadas
O
clube cita a não conquista do título da Sulamericana, competição que renderia
U$ 2 milhões, tendo recebido apenas metade pelo segundo lugar. E a não
conquista do Campeonato Carioca, no valor de R$ 3,5 milhões em premiação.
O blog
está tentando contato com a Federação Peruana de Futebol e com os
representantes do jogador para se manifestarem. Em audiência da outra ação
movida pelo clube, nesta semana, os advogados de Guerrero foram procurados pela
reportagem e não quiseram falar a respeito.
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