RENATO
MAURÍCIO PRADO: O coração ainda sangra pela morte estúpida dos dez meninos no
Ninho do Urubu, mas a vida tem que seguir em frente. O carioquinha recomeça no
meio da semana e a pergunta que o torcedor se faz é como reagirá o time do
Flamengo, que tem um Fla-Flu pela frente, ainda vivendo o trauma da morte da
sua molecada. Para me ajudar a entender o que pode passar na cabeça do time de
Abel nesse momento difícil, telefonei para um amigo que já passou duas vezes
por situação semelhante: Júnior, cracaço do maior esquadrão rubro-negro de
todos os tempos. Fala, Léo!
–
Senti bem isso em duas ocasiões, na carreira, Renato. Primeiro, em 1976, com a
morte de Geraldo (Assobiador), que era praticamente um irmão pra mim, pro Zico,
pra toda a turma que tinha subido junto da base. Era um cara sensacional e um
senhor jogador de futebol (foi convocado para a seleção principal, antes de
Zico). Lembro-me que fizemos um amistoso com a seleção brasileira, com Pelé e
tudo mais, para arrecadar uma grana pra família dele. Jogamos de calções
pretos, pelo seu luto – recorda Júnior.
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Foto: Divulgação |
– No
caso do Geraldo, recebemos a notícia em Fortaleza, onde o Flamengo fazia um
amistoso. Estávamos na piscina do hotel, Zico, Vanderlei (Luxemburgo) e eu e
custamos a acreditar que fosse verdade! No caso do Coutinho foi pior pra mim,
porque eu estava com ele, na praia. Jogamos vôlei e o capitão foi dar um
mergulho, dizendo que ia pescar algo pra gente comer, no Marimbás! Imagina!
Fiquei esperando e, de repente, volta um barco com o corpo dele.
Jogar
imediatamente após essas tragédias, Júnior reconhece, é tarefa das mais duras.
Mas o pior, segundo ele, nem são os jogos, mas a preparação para os mesmos.
– Na
hora que a bola rola, por maiores que tenham sido as homenagens antes da
partida, a emoção e tudo mais, você consegue se concentrar no jogo e esquece a
dor. Difíceis são os treinamentos, quando a cabeça tem tempo para ficar
trazendo recordações dolorosas. Aí, não tem jeito. Só o tempo, mesmo.
Quem,
certamente, poderá ajudar um pouco os jogadores rubro-negros nesse inevitável
processo de luto é o técnico Abel. Que passou, há pouco mais de um ano, por um
drama semelhante com a morte do filho mais jovem. Na ocasião, o Fluminense
chegou a lhe acenar com uma licença, mas ele preferiu continuar trabalhando e
foi no convívio diário do futebol e no carinho da torcida que encontrou um
pouco mais de conforto. Abel sabe como será duro voltar ao Ninho do Urubu, onde
esses meninos que morreram tietavam os craques do profissional e o próprio
treinador, pedindo para tirar fotos etc.
Não há
dúvida, o Flamengo entrará em campo, na próxima quinta-feira, com a alma ainda
em frangalhos. O grande desafio é usar essa dor para se agigantar e vencer,
como homenagem à meninada que se foi.
Exatamente
como Zico, Júnior e Cia, fizeram, em 1981, em relação a Cláudio Coutinho, o
homem que, com o Brasileiro de 1980, deu início ao maior período de glórias de
toda a história rubro-negra.
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