GLOBO
ESPORTE: A porta emperrada no quarto fez o garoto Pablo Ruan, de 16 anos, tomar
a decisão de passar pela grade da janela para conseguir escapar com vida do
incêndio no CT do Flamengo, na madrugada da última sexta-feira. O jovem jogador
ficou apenas com arranhões no peito e nas costas.
De
volta para a casa da mãe, em Londrina, ele contou que ainda conseguiu ajudar a
salvar três amigos que estavam no quarto ao lado: Jhonata Ventura, Cauan
Emanuel e Francisco Dyogo, que ficaram feridos. Pablo Ruan estava no quarto com
Christian Esmério, Jorge Eduardo e Samuel Thomas. Os três amigos morreram no
incêndio.
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Foto: Reprodução |
–
Quando eu acordei, eu já estava com falta de ar. Estava tudo escuro, não dava
para enxergar nada. Eu tentei abrir a porta, mas ela tinha travado. Aí fui
tentar sair pela janela. Vi que passava, fui e me joguei pela janela. Ela só tinha
grade. Passei primeiro a cabeça e depois fui passando o corpo. Quando passou a
cintura, eu me joguei para fora. Na hora do desespero a gente nem vê.
Após
conseguir escapar pela janela, o londrinense chamou o segurança do CT e ajudou
a resgatar os colegas do quarto ao lado. Dos três resgatados, Cauan Emanuel
teve alta do hospital nesta segunda-feira. Francisco Dyogo continua no CTI do
Hospital Vitória, no Rio. O estado mais grave é de Jonatha, que teve 35% do
corpo queimado e está no Hospital Pedro II, também no Rio.
–
Chamei o segurança, e ele arrancou a grade. Eu ajudei a puxar os três que estão
no hospital hoje. Eles estavam no outro quarto. Consegui salvar o (Jonathan)
Ventura, o Cauã, o Emanuel e o Diogo. Eles estavam bastante apavorados. O
Ventura foi o último a sair, ele estava todo queimado – contou.
Pablo
Ruan lamentou a perda dos companheiros de quarto, que não conseguiram escapar e
morreram no incêndio. O goleiro Christian Esmério foi enterrado em Irajá-RJ, no
domingo; Jorge Eduardo foi velado e sepultado nesta segunda-feira em Além
Paraíba-MG; e Samuel Thomas foi enterrado também nesta segunda, em São João de
Meriti-RJ. .
– No
quarto dormiam eu, Christian, o Jorge, o Samuel e o Caíque, que não dormiu
naquele dia nesse quarto. Só eu consegui sair. Eu percebi que eles estavam
porque dava para ouvi-los falando, gritando apavorados. Menos o Christian, que
estava dormindo de fone de ouvido. O Jorge falou para eu colocar a cabeça para
fora para pegar um ar, aí vi que passava o meu corpo e tentei. Passei e me
joguei para fora - relatou.
Pablo
contou que o CT teve alguns problemas com energia elétrica por causa do
temporal que atingiu o Rio de Janeiro na quarta-feira. Segundo ele, passou a
haver piques de energia por causa da queda de árvores na região.
– Foi
um fato que aconteceu do temporal, caiu árvore, a energia ficou indo e
voltando, quando voltou de uma vez queimou o ar-condicionado. A tempestade foi
na quarta-feira. As árvores tinham caído, a luz ficava indo e voltando. Quando
voltou de madrugada de uma vez, queimou o ar-condicionado – comentou.
"Vou continuar sonhando por
eles"
Um dos
16 sobreviventes, Pablo Ruan está recebendo apoio psicológico por profissionais
contratados pelo Flamengo desde o dia da tragédia. Ele voltou para Londrina na
noite de sábado e ainda não sabe quando voltará para o Rio de Janeiro.
Consciente do que passou, Pablo comemora a "segunda vida".
– Está
sendo como se eu estivesse vivendo um sonho de novo. Em questão de segundos eu
teria morrido. Para mim, é minha segunda vida agora. Estou muito feliz com
isso.
Pablo
afirma que vai continuar a busca para ser um jogador de profissional. Atacante,
ele quer agora manter o sonho pelos amigos que morreram no incêndio.
– Vou
continuar, não vou desistir do meu sonho. Isso poderia acontecer na casa de
qualquer um, poderia acontecer na casa deles. Foi uma tragédia que aconteceu.
Não vou me abalar, vou continuar sonhando por eles também.
Pablo
começou a base na Portuguesa Londrinense em 2011. Em setembro do ano passado,
foi para o Flamengo, permanecendo no Rio de Janeiro desde então.
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