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Foto: Alexandre Vidal/ Site Oficial |
ESPORTE INTERATIVO: Um dos principais dirigentes do futebol brasileiro, Paulo Pelaipe ganhou notoriedade, especialmente, por ter montado o time do Grêmio, comandado por Mano Menezes, e campeão da Série B em 2005 após a histórica Batalha dos Aflitos, diante do Náutico. No entanto, a relação de Pelaipe com o Tricolor é antiga, uma vez que na década de 70, o gaúcho de 65 anos, era o responsável por gerir o futsal do Imortal.
Mas foi mesmo nos gramados, ou fora dele, que Pelaipe ficou conhecido. Autêntico, deixou de lado seus negócios pessoais para se tornar executivo de futebol remunerado a partir de 2007. Com isso, retornou ao Grêmio em 2011 para ser o homem forte do futebol, mas acabou por deixar o clube em 2012, após a derrota de Paulo Odone nas eleições.
Em 2013, foi convidado por Eduardo Bandeira de Mello para ser o executivo de futebol do Flamengo e formatou o plantel rubro-negro que acabou sendo campeão da Copa do Brasil daquela temporada. Contudo, um ano e meio após chegar à Gávea, Pelaipe deixou o clube e, desde então, não assumiu nenhum outro cargo oficial. Entretanto, engana-se quem pensa que o dirigente segue afastado do futebol. Com ampla experiência nos bastidores da bola, o gaúcho continua pesquisando e acompanhando os principais acontecimentos do esporte. Entre os hábitos, está o de assistir, ao vivo, todas as finais da Champions League dos últimos anos.
Em contato exclusivo com o Esporte Interativo, Pelaipe projetou o confronto decisivo entre Atlético de Madrid e Real Madrid, no próximo sábado (28) e comentou sobre como a organização da UCL pode servir de modelo para o futebol brasileiro. Além disso, até mesmo o Leicester, que foi a grande surpresa mundial ao ganhar o título da Premier League da temporada 2015/16 com a incontestável campanha de 38 jogos, 23 vitórias, 12 empates e somente 3 derrotas, esteve em pauta.
“Há dez anos no jogo entre Barcelona x Arsenal, um fato me chamou atenção, até mesmo porque era minha primeira decisão de Champions League ao vivo. Ao final do jogo, duas placas em formato de cheques estavam em campo para serem entregues junto com as taças aos clubes. Uma no valor de 12,5 milhões de euros para o vice-campeão e outra de 25 milhões de euros para o campeão. Falo de dez anos atrás. Aí começa a diferença. Ano passado, o campeão brasileiro recebeu R$ 10 milhões e o campeão da libertadores US$ 5,3 milhões. A organização do evento (Champions League) é perfeita”.
Confira abaixo a entrevista completa:
Você tem o hábito de assistir todas as finais da Champions League in loco? De todas as decisões que acompanhou, consegue relembrar e descrever quais foram os jogos mais marcantes?
Sempre que possível procuro estar presente, pois trata-se de um jogo especial, com atletas especiais, onde o mundo do futebol se encontra. E para quem trabalha no meio, sempre é saudável e oportuno estar convivendo com os protagonistas deste grandioso evento. Tive a felicidade de assistir no Stade de France (Paris), há 10 anos, Barcelona e Arsenal. Não esqueço daquele gol do Belletti pela qualidade da jogada e finalização do lance, e por se tratar de um atleta brasileiro que estava dando o título ao clube catalão, colocando o Barcelona no topo da Europa. Esta foi a primeira decisão que assisti no estádio, ao lado de George Weah, o único africano a ser escolhido o melhor jogador do mundo e bola de ouro, e naquela oportunidade candidato a presidente da Libéria. Foi um momento marcante. Depois assisti a outras decisões. Outro jogo marcante em que estava presente foi Bayern de Munique e Chelsea, com o time inglês conquistando a taça em pleno território alemão. Considero também outro grande confronto a própria partida entre Real Madri e Atlético de Madrid realizada no estádio da Luz, em Lisboa, que no último lance dos 90 minutos garantiu a prorrogação e posteriormente o título para o Real.
Com isso, qual é a expectativa para a decisão deste ano entre Real Madrid x Atlético de Madrid? Acha que há algum favorito? Arriscaria um palpite?
São duas escolas distintas de jogar futebol, cada um dos seus treinadores usando estratégias muito diferentes, Zidane privilegiando a parte ofensiva, com três atacantes, e Simeone o setor defensivo e a forte marcação, jogando com dois atacantes e com contra-ataques em alta velocidade. Será um grande jogo e uma grande revanche para o Atlético de Madrid, ou seja, um jogo de difícil previsão pela qualidade das equipes.
Como você avalia a organização/execução da Champions League e como isso poderia ser aplicado para a melhoria do calendário e até mesmo do nível das competições nacionais?
Há dez anos no jogo entre Barcelona e Arsenal, um fato me chamou atenção, até mesmo porque era minha primeira decisão de Champions League ao vivo. Ao final do jogo, duas placas em formato de cheques estavam em campo para serem entregues junto com as taças aos clubes. Uma no valor de 12,5 milhões de euros para o vice-campeão e outra de 25 milhões de euros para o campeão. Falo de dez anos atrás. Aí começa a diferença. Ano passado, o campeão brasileiro recebeu R$10 milhões e o campeão da libertadores US$5,3 milhões. A organização do evento (Champions League) é perfeita. Chego no estádio 15 minutos antes da partida indo de trem e meu lugar está reservado esperando para ser ocupado. Horários rigorosamente respeitados pelas equipes, trio de arbitragem, sem contar a música tema da competição que emociona o espectador que por sua vez respeita a cerimônia (não vaia, não canta outro hino, etc). Começo a notar no Campeonato Brasileiro deste ano algumas mudanças que copiam exemplos utilizados na competição europeia. Para este ano já estão sendo colocadas algumas medidas em prática, como, por exemplo, a metragem de campo padronizada, música tema do Brasileirão, equipes entrando no mesmo horário, lado a lado, mas ainda temos um longo caminho a ser percorrido para que possamos atingir um nível de excelência, tanto por parte da operação, quanto por parte do público. A imprensa tem uma participação expressiva nestes avanços tão necessários para o crescimento do nosso futebol, principalmente não dando espaço a uma minoria de marginais que frequentam nossos estádios. Como podemos observar nos jogos das 11h, mais famílias estão presentes nos estádios e estamos assistindo belos espetáculos fora de campo pela qualidade do público que frequenta.
O Atlético de Madrid tem uma folha salarial menor que os grandes europeus e ainda assim chegou à final. O mesmo aconteceu com o Leicester. Do ponto de vista de planejamento, como você observa esse ‘fenômeno’?
Existe uma diferença entre Atlético de Madrid e Leicester. O Atlético nos últimos anos adotou uma política com estratégia, cultura e filosofia de futebol que se encaixa na forma de jogar do seu treinador. Jogadores são vendidos e suas reposições estão no mesmo nível ou as vezes até superior daqueles que saem. Portanto, existe uma política no departamento de futebol do clube que prioriza a contratação de atletas que se encaixem no sistema de jogo proposto pelo seu treinador Simeone. Este é um fator, na minha opinião, importante para o sucesso do Atlético nos últimos anos: a manutenção de uma equipe de trabalho. Quem apostaria que esses mesmos jogadores que estão numa segunda final de Champions em três anos jogariam o que jogam sob o comando de outro treinador que não fosse o próprio Simeone? Isso mostra que as contratações e manutenção do plantel respeitam o estilo de jogo do técnico argentino. O Leicester é um emergente. Temos que esperar os próximos dois ou três anos para ver se existe por parte da sua direção um planejamento e uma política para o departamento de futebol e como será a reposição no plantel para eventuais perdas. Só o tempo dirá para todos nós se este título não foi fortuito.
Acredita que isso seria possível no Brasileirão? Uma equipe com folha salarial e investimento substancialmente menor chegar ao título?
Sim, acredito, desde que haja um planejamento correto, uma política de futebol adotada e uma comissão técnica que tenha tranquilidade para trabalhar. Já tivemos alguns exemplos em competições nacionais de equipes que obtiveram sucesso e conquistaram títulos com folha salarial menor que seus concorrentes. No futebol, não adianta contratar por contratar jogadores com salários altos se não houver um planejamento bem elaborado e que os atletas se adequem ao estilo de jogo proposto pelo treinador. O Atlético de Madrid é um exemplo a ser seguido, pois mantém uma comissão técnica, entrega os jogadores para o treinador trabalhar e não fica a todo instante mudando sua comissão técnica, pois jogadores escolhidos para um determinado esquema de jogo às vezes afundam com um outro estilo de trabalho. Portanto, a manutenção de uma filosofia de trabalho é fundamental para o sucesso (muito diferente do Brasil que com 4 ou 5 derrotas já está a perigo, vide Muricy Ramalho um treinador consagrado, competente e que já está sendo contestado no Flamengo, sem tempo para desenvolver um trabalho).