Flamengo celebrando gol contra o Santa Cruz – Foto: Carlos Ezequiel Vannoni / Agência Eleven / Agência O Globo |
REPÚBLICA PAZ E AMOR: Outro dia mesmo estávamos na merda, vendendo o almoço pra comprar a janta, mas a vida de repente deu uma melhoradinha e já nos achamos no direito de reclamar. Agora que rondamos cautelosamente o G4, mantendo uma distância controlada das montarias paraguaias que adoram se aparecer, 1×0 jogando fora já não satisfaz nossos refinados apetites de connaisseurs. Tem atitude mais humana do que essa? A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte.
Claro que gostamos da vitória e dos 3 pontos que a acompanham, mas vitórias e pontos são alimentos do corpo, o que alimenta a alma é o futebol-arte e é a presença dele que reclamamos. Mesmo que esse futebol mágico não dê as caras há tanto tempo que, sinceramente, nem me lembro a última vez que o vi pessoalmente, não é uma reinvindicação injusta. Porque ganhar é nome do jogo, mas é evidente que o Flamengo poderia ganhar jogando um pouco mais bonito.
Depois de um 1º Tempo muito simpático, no 2º o Flamengo se embarangou. Mesmo estando absolutamente consciente das nossas deficiências ofensivas é muito esquisito abdicar do ataque aos 15 minutos do 2º tempo. Denota uma extrema falta de confiança no taco da nossa rapaziada de frente. Paramos de jogar assim que o Vizeu foi substituído. Se o Santinha possuísse maior poder de fogo ficaríamos meia hora no sufoco. Ainda assim o jogo poderia ter terminado tranquilamente uns 3×0 pro Flamengo. Mas se fosse tranquilamente não seria o Flamengo.
Há quem diga que Zé Ricardo gosta de armar os seus times nesse esquema e que só o fez depois de se certificar da debilidade do ataque adversário. Pode ser, mas é uma opção muito arriscada, perebas consagrados se transformam em supercraques de um momento pro outro e destroem as palhaçadinhas dos professores. Sem falar que é uma opção tática medrosa e estranha à tradição do Flamengo, historicamente muito mais identificado com o ataque do que com a defesa.
Pode ser que a interinidade de Zé Ricardo tenha provocado esse cagaço tático. É natural que um treinador sob observação fique mais cauteloso. Ele sabe que já perdeu 2 jogos e que a tradição brasileira é Perdeu 3, um abraço, professor!. Mas vejam por outro lado, só quem tá garantido no emprego e com moral com os patrões se arriscaria tanto assim.
O fato, que encerra quaisquer especulações estéticas, é que o time do Zé Ricardo é melhor do que o do Muricy até quando joga muricybol. Ganhamos 3 preciosos pontos jogando fora de casa (aliás, quando é que não jogamos fora?) e estamos cumprindo nossas missões no sapato total. Parabéns pra mulambada, do campo e da arquibancada, que representaram em território francamente hostil. Na moral, se o Flamengo continuar jogando mal desse jeito nós vamos comemorar para car* o Hepta do Brasileiro em dezembro.
Mengão Sempre
ARTHUR MUHLENBERG