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Foto: Getty Images |
EPOCA: Você provavelmente já ouviu a afirmação: o Campeonato Brasileiro é o mais interessante do mundo porque, de princípio, pelo menos dez clubes largam com chances de título. Dentro dessa lógica, a competitividade é um fator elementar para despertar o interesse do público. A história não é tão simples assim. O futebol japonês está aí para indicar que, sozinho, o equilíbrio não faz muito.
Os 18 times da J-League, a primeira divisão do Japão, faturam juntos 60 bilhões de ienes. Parece muita coisa, mas não é. A conversão para o real dá R$ 1,9 bilhão. Os 20 clubes brasileiros que jogam o Campeonato Brasileiro fazem R$ 3,6 bilhões. O dobro dos japoneses. Isso ajuda a dimensionar o futebol dentro do país asiático.
O time mais rico do Japão é o Urawa Reds, com 6 bilhões de ienes em faturamento, ou R$ 197 milhões. Quase a metade do brasileiro mais rico, o Flamengo. O japonês mais pobre é o Kofu, cujas receitas ficaram em 1,5 bilhão de ienes em 2015, ou, feita a conversão, R$ 49 milhões. É mais do que fatura o mais pobre no Brasil, o Avaí.
A diferença entre o clube mais rico e o mais pobre, quatro vezes, mostra que o Japão tem o campeonato mais equilibrado do mundo – pelo menos entre as principais ligas. A Premier League, na Inglaterra, referência pela divisão igualitária dos recursos, tem cinco vezes entre mais rico e mais pobre. O Brasil e a Itália têm 11 vezes. A França, 19 vezes. A Espanha, o maior exemplo da desigualdade, 30 vezes. Qualquer japonês, afinal, pode vencer.
O Japão não é, no entanto, dado como exemplo de quase nada no futebol. O país não tem resultados expressivos em Copas do Mundo e seus atletas não se destacam no futebol europeu – feita a ressalva de Hidetoshi Nakata nos anos 2000. Nem o próprio japonês dá tanta bola assim ao futebol. A média de público está no mesmo patamar que a brasileira, em torno de 17 mil pagantes por partida. O beisebol leva mais gente e gera mais dinheiro do que o futebol no Japão.
O intuito, aqui, não é desmerecer o futebol japonês. Nem cravar que pouco importa a competitividade entre os clubes. Mas inserir dados à reflexão que Stefan Szymanski propôs no livro Soccernomics. O economista conta que, a despeito da soberania em títulos e vitórias nos anos 1990 e 2000, o público do Manchester United cresceu muito na Inglaterra durante o período. As audiências também. As pessoas apreciam na teoria a relativa igualdade da NFL, a liga de futebol americano dos Estados Unidos, mas na prática aderem aos grandes esquadrões, heróis ou vilões, gerados pela desigualdade financeira.
No fim das contas, a competitividade é só mais um elemento para tornar um torneio mais ou menos atrativo. A Premier League é referência por dividir recursos a ponto de um Leicester superar os ricaços, mas só chama a atenção do mundo e exporta seu campeonato porque tem mais dinheiro para dividir. O Campeonato Espanhol é criticado pelo abismo financeiro entre Barcelona, Real Madrid e os demais clubes, mas a dupla chega às semifinais da Liga dos Campeões todo ano e atrai públicos e audiências enormes. O Campeonato Brasileiro ruma para a desigualdade e falta grana para melhorar o nível do espetáculo. A J-League prima pelo equilíbrio financeiro, mas não vai mais longe porque falta tamanho.
Só equilíbrio não basta.