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Foto: Divulgação |
BOTECO DO FLA: POR FLÁZARO.
Bem… De tanto fala isso, fala aquilo, vai ficar com fulano, vai ficar com Cicrano… Meu Editor Lindo e Compreensivo, o PC, foi forçado a recorrer aos meus serviços mais uma vez. Após aquele ritual protocolar de sempre, gritos e pontapés, disse ele:
– Flázaro, meu filho. Descobre essa porra pra gente. Sabemos quem quer ficar com o Maracanã, sabemos quem não quer mais ficar com o Maracanã, sabemos até muito bem quem não quer que o Flamengo fique com o Maracanã… Mas, afinal, o que o próprio Maracanã pensa disso tudo? Tem como ser?
Como não sou de negar trabalho, mesmo que o pagamento seja em pratos de comida, fora o fato de temer represálias por parte deste adorável ser que chamo de chefe… Parti para o estádio.
A primeira barreira foi física. Tive que me instalar sorrateiro no teto do Maracanãzinho. Se é que se pode considerar discreto alguém no telhado de qualquer lugar que seja e portando um megafone.
– Ô, Seu Maracanã… Dá pra trocar umas palavras?
Nada de resposta. Após alguma insistência, um pouco de atenção enfim.
– Aaaannn… É o COI? Socorro… Já não chega? Vocês ainda estão por aqui? Ou… Espera… Olha… Se for da FIFA, já querendo fazer mais cirurgia plástica em mim por conta da Copa América de 2019, nem pensar. Já tô cansado dessa frescura. Já sou um senhor. Não fica nem bem esse troço de retoquezinho toda hora.
– Não. Eu sou da imprensa. É que tá uma bulha danada pra decidirem quem vai tomar conta de voc… Do Senhor. E daí meu chefe pediu pra vir aqui e perguntar diretamente pro principal interessado.
– Ahahahaha… Nem estou acreditando. Enfim alguém veio buscar a minha opinião. Já não era sem tempo. Sabe… Durante as poucas vezes em que recebi público esse ano, menos na abertura e encerramento das Olimpíadas, porque além de muito barulho tinha também um monte de idioma que eu não entendo, andei prestando atenção em uma conversa aqui e outra ali. Deu pra perceber que a confusão vai ser grande.
– Mas o Senhor tem preferência?
– Escuta rapaz. Pode me chamar de você mesmo. Minha preferência é que tenha futebol aqui, né? Não foi pra isso que eu fui construído? E umas três vezes na semana. Esse troço todo de Copa, Olimpíadas, não posso negar que foi bom durante, mas essa embromação toda antes e depois é um saco. Aliás, vários sacos. Cimento, areia, um barulho que não acabava mais. Só aporrinhação.
– Eh… Eu deveria ser neutro e isento por ser da imprensa… Mas eu sou do Falando de Flamengo, e daí… Bem… Acho que o senh… Você entendeu o que eu quero saber, né?
– Eh, eh, eh… Entendi sim. Bem, meu filho. O Flamengo me enche né? Estou falando pelo lado positivo. Alguns outros só me enchem a paciência. Mas não me incomodam não. Quando o Botafogo joga aqui com time de fora eu até simpatizo. Vejo um joguinho e não preciso carregar muito peso. O Fluminense até que, quando a situação é boa ou muito ruim, faz bom papel. O que me mata é aquele pó-de-arroz. Antigamente eu nem ligava, mas a idade acho que me deixou alérgico. E também… Eles aparecem aqui, jogam, e a gente nunca sabe se o que aconteceu no campo vai ficar valendo mesmo. Isso me passa uma sensação de desrespeito, mas aí é lá com eles. Já o Vasco, o Vasco tem lá meu primo Januário. Volta e meia recorre ao velhinho aqui, mas eles se viram bem por lá. Nem tão bem assim nos últimos anos, mas lá é a casa deles.
– Mas então você prefere o Flamengo?
– Eh, eh, eh… Não bote palavras nos meus portões. Vê lá o que vai publicar que eu não quero escândalo com meu nome. Eu não prefiro ninguém não. O Flamengo quando joga aqui é uma belezura só. Que festa!!! Mas é como eu disse. Sou um estádio e quero que tenha futebol por aqui. Outro dia liguei pro Pacaembu. Olha… Não tá sendo fácil a vida por lá. Anda até deprimido por estar sempre vazio. Dia desses me ligou e tava todo bobo porque o Flamengo andou fazendo umas festas e tal – Parou pensativo, deu uma coçada na marquise, suspirou e – Agora… Ouvi falar que, pra continuar sendo o que sou (e quase não tenho sido ultimamente, diga-se de passagem), um lugar de jogar bola, é inevitável que o Flamengo esteja envolvido. Não entendo bem dessas coisas de dinheiro, mas esse aí, onde você está sentado, comentou outro dia que esse monte de frescurada que fizeram com a gente deixou tudo muito caro na hora de botar a coisa pra funcionar. Daí eu não quero nem saber se vai ser junto com francês, com alemão, com a empresa disso ou com a empresa daquilo. Se só o Flamengo torna possível… Que ele esteja envolvido então. Mas eu queria que mais gente jogasse aqui. Bem, isso se a minha opinião ainda conta. Por exemplo… O Engenhão lá, quando usado estava na mão do Botafogo, o resto não jogava lá? Acho que se organizar essa bagunça todo mundo joga. E com todo respeito a todos os meus amigos, mas lugar de clássico carioca é aqui, né?
– Muito obrigado. Acho que deu pra entender. Você quer simplesmente ser o Maracanã.
– É por aí. Ah… Claro que um showzinho ou outro me agrada e muito… Uma festa… Aliás, sempre me pergunto por que Papai Noel não vem mais aqui. Aquela era uma comemoração danada de boa pra encerrar o ano. E outra coisa. Se esse monte de plástica tá encarecendo tudo… Olha… Eu não sou nada vaidoso. Ficar bonito não enche meus olhos e nem me enche do jeito que eu mereço. Dá uma ajeitada. Sei lá. Eu tenho uns parentes lá na Europa que deram um jeito de deixar atrás do gol com cara de antigamente. Arrancaram as cadeiras com frescurada, tacaram o povo no concreto pra caber mais gente, e dizem que o povo fica lá, pulando feliz da vida, como se não houvesse amanhã. Você tem como passar isso para… Ahahahaha… O pior é que a gente nem sabe com quem tem que falar. Enfim… Desculpa bater nesse mesmo degrau de arquibancada, mas não tem como. EU QUERO FUTEBOL POR AQUI. O MÁXIMO DE PARTIDAS QUE DER.
– Entendi. Muito obrigado pela atenção. E a saúde como vai?
– Ah… Tá ótima. Com esse monte de reforma tô até me sentindo garotão de novo. Mas a gente sabe, né? É aquilo. Se ficar muito tempo parado sem trabalhar acaba enferrujando. Muito curioso pra saber se vou poder ser eu em 2017. Se você souber de algo me conta?
– Opa… Pode deixar. E quando finalmente decidirem você pode me conceder outra entrevista?
– Claro. Só aparecer.
Flázaro é ressuscitado e correspondente de matérias especiais do Falando de Flamengo. Volta e meia gentilmente cedido aqui pro Boteco.
Cola nas redes, Urubu.
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