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Foto: Reprodução |
REPÚBLICA PAZ E AMOR: Encontrei o amigo das antigas na fila de espera do restaurante. Fora as amenidades não tinha muito assunto com ele. Trocamos as figurinhas de rigor, idades dos filhos, atualizamos os nomes das novas mulheres e os novos empregos. Mas como a mesa demorava e o chopp garoto não dá nem tempo de esquentar no copo fomos esticando, para além do que as boas maneiras recomendam, o que deveria ser apenas um breve cumprimento de fila de mesa em restaurante bombado. A cônjuge do amigo (já esqueci o nome da bisca) olhou de cara feia quando a conversa adentrou no tema Mengão tá dando mole, mas a essa altura já era. Chamei o cara pra fumar um careta na rua enquanto madame ficava lá de tromba esperando mesa.
Foi só lá fora, encostado no poste cravado na calçada estreita que o amigo expôs as bases da sua teoria. Que não era nada original, era a mesma conversinha mole de que o Flamengo está deixando escapar o Hepta por entre os dedos, que Zé Ricardo não é técnico e que certos uns e outros abrigados em nosso elenco não reúnem as qualidades mínimas necessárias para o exercício das funções para as quais foram contratados. Em resumo, uma cornetagem tipo A dos que sofrem com a falta de roupa no tanque. Ando tão sem saco pra esse papo que quase apaguei meu cigarro e voltei pra fila pra ficar conversando com a mulher do cara, com tromba e tudo.
Mas perseverei naquele Marlboro e, na humildade sempre, apresentei meus argumentos ao amigo infeliz no casamento. Disse pra ele, escandindo as sílabas como se fosse uma professora do C.A. ensinando aos pimpolhos de 5 anos a usar um calendário: – Há menos de 6 meses atrás nem o mais alucinado rubro-negro sonhava com algo além no Campeonato Brasileiro do que os cretinos 45 pontos obrigatórios para a manutenção da honra de jamais ter sujado os sacrossantos calções rubro-negros na lama impura dos campinhos de pelada onde se disputam as divisões subalternas do futebol pátrio.
Quando tive certeza que o conceito da contextualização histórica tinha sido bem assimilado pelo amigo atalhei com um uppercut que julguei ser suficiente para que a ideia idiota de que o Flamengo deu mole fosse definitivamente extirpada daquele cérebro sofredor: – Sem falar que das 34 partidas do campeonato o Flamengo só jogou duas no Maraca, o que fez o Flamengo, aconteça o que acontecer no campeonato, o detentor de um recorde maluco de enfrentamento de adversidades esportivas provocadas pela incúria e pela ganância de inúmeras quadrilhas de ladrões dedicados a roubar tudo que encontraram pela frente durante o exercício de seus mandatos. Capaz de rolar até um Nobel da Paz pro Mengão.
O amigo ensaiou uma boca aberta, mas fui mais rápido e mandei na lata: – Sim, é preciso que as coisas sejam ditas claramente. O Flamengo está se fod* todo em 2016, sem casa pra jogar, porque o Estado do Rio vem sendo governado há anos por quem demonstra enorme dificuldade em compreender a diferença entre o que é publico e o que é privado. Diante de verdade tão cristalina crucificar Zé Ricardo, Rodrigo Caetano, Márcio Araújo e o próprio Flamengo antes da lapidação devida a Sérgio Cabral, Pezão et caterva é apenas covardia.
E ainda assim, com o governo, a prefeitura, a cúria metropolitana e a AMALeblon contra si, o Flamengo vem fazendo apenas a sua melhor campanha em Brasileiros desde o advento dos pontos corridos. Será que se o Flamengo tivesse podido exercer o seu direito, comum aos outros 19 times da competição, de jogar 19 jogos em casa estaria 7 pontos atrás de qualquer um deles? Por pior que você seja em contas, a matemática diz que não. Essa mesma matemática não permite que um rubro-negro fique de mimimi jogando toalhinha enquanto ainda faltam 4 jogos nessa porr*. Que que é isso, meu chapa? O jogo ainda tá todo na mesa. Vai pipocar? Nem parece rubro-negro.
Mas o amigo parecia não querer voltar pra companhia da mulher de jeito nenhum: – Mas, porr*, Arthur, dois jogos no Maraca e o Flamengo não ganha! A torcida calada no Maraca. Sábado dava até pra ouvir a torcida do Botafogo usando suas bombinhas de asma e nada da nossa torcida cantar. A menção à bombinha de asma me fez acender outro cigarro antes de responder: – Peraí, amigo, a culpa é da torcida? Mas não era o Flamengo que tava dando mole?
Ficou aquele silêncio no ar, musiquinha de roda pião do Sílvio Santos embalando mentalmente aqueles segundos de hesitação do amigo, até ele ser salvo pelo gongo. Chegou o maître todo simpaticão: – Doutor, sua mesa está pronta. Me acompanhe por favor. O amigo se despediu com o clássico carioca vamo combinar de sair um dia desses e foi lá almoçar com o trubufu. Desisti daquele restaurante. Fiquei na calçada fumando e dizendo entredentes:
– Flamengo deu mole teu c*.
Mengão Sempre
ARTHUR MUHLENBERG