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Cesar Greco / Fotoarena |
O GLOBO: O ano de 2017 será lembrado como aquele em que a temporada se tornou um grande organismo.
Os estaduais mantiveram seus papéis de prelúdio do Brasileiro, mas os torneios paralelos – isto é, a Libertadores, a Sul-Americana e a Copa do Brasil – se fundiram num sentido maior, em que as coisas começam mais ou menos juntas e terminam com um grande clímax entre novembro e dezembro, de onde sairão quatro campeões.
Isso muda algo? Certamente.
Significa que, mesmo num calendário ainda imperfeito, a maioria dos clubes vai vivenciar o ciclo de forma semelhante, sem que o Brasileiro seja esnobado por quem se empanturrou com alguma glória em junho/julho. O recente paralelismo da Copa do Brasil – com a final acontecendo ao fim do ano, e não no meio – já teve efeitos, uma vez que o número de vagas continentais pode ser repentinamente ampliado se seus finalistas estiverem no alto da tabela. Isso injeta competitividade entre os times intermediários, aumentando a competitividade.
Ao mesmo tempo, os torneios de mata-mata servem para cortar aquele tediozinho que bate quando só existe o Brasileiro e nada mais. Haverá a sensação de que tudo acontece ao mesmo tempo, com clubes parando no funil da Libertadores, da Sul-Americana (que já começou o ano mais cobiçada) e da Copa do Brasil; e ainda, com os eliminados desses torneios engrenando novas marchas no campeonato de pontos corridos, em busca da dignidade. Quando chegar dezembro, quatro campeões serão conhecidos, quatro times serão rebaixados, e tudo isso contará uma história única, em vez de contos independentes.
Nessa nova etapa do futebol brasileiro, a noção de planejamento de temporada ganhará maior peso, principalmente para os clubes que resistirem mais tempo em diferentes frentes. Clubes que mantiveram técnicos e reforçaram elencos em número e qualidade saem na frente: Flamengo, Atlético-MG, Palmeiras (que, de uma forma ou de outra, “manteve” Cuca) e Cruzeiro entram em campo como favoritos ao Brasileiro, com Santos e Grêmio num segundo escalão, pelo que jogaram até agora.
Depois vem o pelotão dos franco-atiradores, que devem oscilar na temporada: o Botafogo, de elenco mais curto, condicionará seu Brasileiro aos rumos da Libertadores, como fez no Estadual: quanto mais longe for, mais operará um gerenciamento de tabela. Situação parecida com a do Atlético-PR, que terá a seu favor o último ano da grama sintética na Arena da Baixada, que muitos visitantes consideram hostil.
No mesmo pelotão, há o Fluminense de Abel Braga, repleto de jovens velozes, surge como um franco-atirador temível: voluntarioso, mas com algum preço a pagar pela inexperiência. Por fim, o Sport de Ney Franco, que se reforçou e terá menos quilômetros a viajar na Série A, graças às presenças de Bahia e Vitória. Ainda assim, os recifenses ainda se encontram em outras três competições, o que convida à exaustão e à falta de foco.
Por outro lado, elencos curtos podem se beneficiar da dedicação exclusiva ao Nacional. Campeão paulista, o Corinthians de Fábio Carille tem 11 titulares encaixados – e, com eles, uma defesa perto do inexpugnável – à procura de bons reservas: tendo apenas o Brasileiro pela frente, pode brigar no alto da tabela. Também exclusivos são o desequilibrado São Paulo de Rogério Ceni e o preocupante Vasco de Milton Mendes: com tempo para treinar, poderão se livrar semanalmente de um punhado de incertezas e, talvez, sonhar com dias melhores.
Ainda assim, o Vasco precisa se enxergar mais próximo dos clubes que terão como meta alcançar 46 pontos o mais rápido possível coisa que equipes mais humildes, como a Chapecoense e Ponte Preta, já aprenderam a operar com certa desenvoltura. O Coritiba, campeão paranaense, também precisa dessa consciência: Avaí, Bahia e Atlético-GO cobiçarão – e muito – as suas vagas.
Bom Brasileirão.