![]() |
Foto: Gilvan de Souza / Flamengo |
PAPO DA NAÇÃO: A partida entre Flamengo e Universidad Católica comprovou mais uma vez o que vem sendo regra desde o ano passado, uma grande atuação do camisa 8 Marcio Araújo, mostrando que é uma das peças mais importantes do elenco rubro-negro, e um dos jogadores mais subestimados em todo futebol de território nacional. Mas ainda há barreiras a serem quebradas, e são justamente estas que buscarei aqui tentar desmistificar aos olhos dos torcedores.
A exibição de Márcio na última quarta-feira foi significante a tal ponto que o volante teve seu nome ecoado em pleno Maracanã por três vezes. Sabemos ele que sempre foi a ovelha negra do elenco, sempre foi o primeiro a ser perseguido em más atuações, tais más atuações que são completamente comuns na vida de qualquer atleta profissional. E o mais inacreditável entre tudo é que mesmo assim, este jogador apresenta uma ótima constância em seus jogos, ou seja, raramente joga mal. Considerar a partida contra o clube chileno apresentada por ele como uma boa partida é apenas sacramentar aquilo que ele vem fazendo durante toda a temporada, pois este nem de longe foi o melhor jogo dele na temporada (ou você não lembra o jogo de 96% com 100 passes certos?).
Hoje já entendemos a importância do camisa 8 em nosso sistema defensivo, principalmente nas coberturas. O jogo contra o Fluminense na final da Taça Guanabara mostrou isso, em diversos contra-ataques, onde tanto Rômulo quanto Willian Arão, muito avançados, não deram conta de acompanhar os velozes atacantes tricolores no sistema reativo aplicado por Abel Braga. Temos nele a ideia de um jogador que consegue cobrir muitos espaços dada a velocidade e leitura de jogo, aliados a um preparo físico invejável e bastante experiência.
A grande questão é que ainda existem estigmas, perpetuados até pela própria mídia e alguns jornalistas que insistem em dizer que Márcio Araujo é um jogador apenas de desarmes, um volante à moda antiga que peca na saída de bola, costuma errar passes e não se posiciona como construtor, diferente do concorrente Rômulo, que é um volante mais técnico e seguro para iniciar os ataques. Mas será mesmo? Talvez os números possam mostrar para nós algo próximo da realidade. Vamos tentar entender.
Em primeiro de tudo, se queremos ter uma noção comparativa entre Márcio Araujo e Rômulo, poderemos pegar os números de ambos e estudá-los (afinal, apenas jogar números para o espectador é algo completamente inútil e errado).
![]() |
Número de passes curtos, certos (em verde) e errados (em vermelho) de Márcio Araújo e Rômulo em cada jogo da Libertadores. |
Podemos ver claramente uma média muito superior de Marcio Araujo ao longo dos jogos. Contabilizam-se 180 passes certos e 6 passes errados, aproximadamente 96,8% de acerto, contra 72 passes certos e 8 errados de Rômulo, indicando 90,2% de acerto. Se excluirmos o primeiro jogo, contra o San Lorenzo no Maracanã, em que Marcio jogou apenas um pouco mais de 10 minutos, vemos uma média de 43,75 passes por jogo, um total de 175 em 4 jogos. Rômulo, por sua vez, tendo sido titular nas três partidas em que participou, mas, para ser justo, também descontarei o jogo no Chile, na derrota para a Universidad Catolica, em que foi substituído logo aos 13 minutos do segundo tempo. aparece com uma média de 26,5 passes certos por jogo, entretanto neste jogo que foi desconsiderado o jogador contratado este ano errou 4 passes, mais do que Márcio em qualquer um dos jogos que participou durante os 90 minutos.
Comparar com Rômulo, um jogador que claramente mostra-se abaixo das expectativas é bastante simples, por que então não comparar com outros jogadores do clube na mesma competição? Vamos trabalhar com números totais, então, levando em consideração todos os jogadores do Flamengo. Olhando para os números de passes certos e errados, algo curioso pode ser notado:
![]() |
Números totais de passes certos na Libertadores dos jogadores do Flamengo, em ranking. |
Quando vemos o número de passes certos, já reparamos Marcio na segunda posição, o que mostra participação recorrente do jogador na saída de bola. Leve-se em consideração, também, que Willian Arão, Pará e Rever foram titulares em todos os jogos na Libertadores. O camisa 5, primeiro colocado em passes certos totais, se fizermos uma média, terá 36,6 passes certos por jogo, quase 8 passes a menos que a média de Marcio Araujo ao desconsiderarmos o jogo contra o San Lorenzo e apenas 3 passes totais a mais contra um jogador que em uma das partidas participou 80 minutos a menos. Tendo isso em conta, vamos agora aos totais em passes errados.
![]() |
Números totais de passes errados na Libertadores do 6º ao 10º piores nesse quesito, em ranking. |
Vimos nos dados comparativos com Rômulo que Marcio conta com 6 passes errados. Isto caracteriza um número suficiente para não estar nem entre os 10 jogadores que mais erram passes na competição pelo clube Mais Querido. O próprio Rômulo, com 8 passes errados, possui um número que o deixa na 9ª colocação. Para ser justo, nem o número do camisa 27 é ruim, já que apenas 8 erros em 3 jogos é algo positivo até, eu diria.
É importante que eu diga que nem sou um defensor da titularidade de Marcio Araujo. Ao escalar meus 11 titulares, eu teria preferência por jogadores de base, portanto Ronaldo seria meu escolhido para a posição de volante (assim como Léo Duarte para jogar ao lado de Réver), mas o grande problema é a torcida engolir certos discursos prontos de alguns comentaristas que pouco se atualizam e buscam de qualquer maneira provar que seus pontos estão certos e criam análises injustas de jogadores que são pouco midiáticos, que pouco darão audiência. O torcedor rubro-negro precisa ser mais crítico, precisa se renovar e tentar entender um pouco mais sobre seu próprio time, antes que fique preso num discurso antiquado e completamente pragmático de que o jogador que trato neste texto é apenas um volante clássico. 2014 já passou, mas parece que ainda temos pessoas vivendo nele.
Fonte das imagens: Footstats
Mateus Garcia