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Foto: Reprodução |
MAURO CEZAR PEREIRA: O jogo entre San Lorenzo e Flamengo na noite desta quarta-feira em Buenos Aires tem cárter decisivo. Vencendo, o vice-líder do campeonato argentino se classifica. Os rubro-negros precisam pelo menos empatar – perdendo, torcerão para que o Atlético Paranaense não derrote a Universidad Católica, no Chile.
Ingressos para o cotejo são vendidos há alguns dias e têm preços para os hinchas do Ciclón que partem do equivalente a R$ 40 – destinado apenas aos associados, na popular, atrás do gol à esquerda, onde ficam as barras como “La Gloriosa Butteler” a maior “organizada” do Cuervo. Custam aproximadamente R$ 300 os situados em setor mais caro e também aberto a não sócios.
Rubro-negros compraram ingressos no Rio de Janeiro e também podem adquiri-los em Buenos Aires. Pagam algo em torno de R$ 140, e as bilheterias só aceitam pesos argentinos. Ficarão posicionados atrás do gol à direita, local normalmente destinado aos visitantes que comparecem à cancha de Bajo Flores.
Os torcedores do time de Buenos Aires podem desembolsar mais 50 pesos (uns R$ 10) pelo bônus de colaboração à campanha pela volta do clube à sua antiga sede no bairro de Boedo. A campanha faz parte de algo que mexe com os corações desses hinchas como poucas coisas na vida.
É preciso arrecadar aproximadamente R$ 15 milhões para quitar o valor acertado com a rede de supermercados que se instalou no local onde existia o Viejo Gasometro. Era a primeira cancha do San Lorenzo de Almagro, inaugurada em 1976.
Eles reclamam há décadas terem sido tirados de lá no auge da ditadura militar, com a desapropriação da área, sob a alegação de que ali surgiria um projeto urbanístico. Mas no lugar onde há um século construíram as primeiras arquibancadas de madeira, apareceu um hipermercado francês.
A volta às origens é, para os torcedores, tão ou mais importante do que um título. Mas a arrecadação de tanto dinheiro não tem sido simples, após manifestações que tomaram Buenos Aires há alguns anos, com até 100 mil “cuervos” saindo às ruas cantando e clamando pela volta ao bairro onde tudo começou. Valeu a pena lutar pela lei de Restituição Histórica, que devolve ao clube seu patrimônio.
As autorizações, os acordos saíram em 2015, mas o San Lorenzo também esbarra em questões políticas, como o afastamento de seu ex-dirigente Maurício Tinelli, que deixou a vice-presidência da AFA (Associação de Futebol Argentino) inesperadamente. Foi ele quem, pelo clube, oficializou o acordo com a multinacional dos hipermercados.
Segundo o jornal “La Nación”, são necessários 150 milhões de pesos (perto de R$ 30 milhões) para conseguir finalizar a compra de volta do terreno. Ainda faltam R$ 15 milhões para completar a compra da área. Tal dívida deverá ser quitada em quatro parcelas previstas para os dias 30 de julho de 2017, 2018, 2019 e 2020. E será necessária uma estratégia econômica que viabilize a construção da nova cancha, em um investimento aí sim grande: US$ 65 milhões, ou cerca de R$ 200 milhões.
Na noite desta quarta-feira feira teremos um confronto curioso. O Flamengo sonhando com seu estádio próprio, na Gávea, e o San Lorenzo lutando para voltar ao local onde nasceu. Mesmo com o clube possuindo o Nuevo Gasometro, onde alcançou seus maiores títulos (quatro campeonatos nacionais, em 1995, 2001, 2007 e 2013; Copa Mercosul 2001, sobre o Flamengo; Sul-americana 2002 e a primeira Libertadores, em 2014). Ele tem 47.964 lugares e foi inaugurado há apenas 23 anos.
Mas o sonho ainda é reerguer uma cancha onde ficava o Viejo Gasometro, que se chamaria estádio Papa Francisco, seu mais famoso hincha. Para os torcedores argentinos, seus clubes, seus bairros, suas origens, suas histórias valem mais do que se pode imaginar. E esse sonho os alimenta. O número 1.700 da Avenida La Plata não sai de suas mentes. Por que para quem torce pelo Ciclón, Boedo é sua própria história, Boedo é sua vida.