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Foto: Divulgação |
GLOBO ESPORTE: Primeira pessoa não é o forte do autor desta matéria, mas a história merece a exceção. Embarcava rumo a Buenos Aires, onde farei minha primeira cobertura internacional como setorista do GloboEsporte.com, quando comecei a desistir de dormir. Queria descansar para resolver coisas, mas uma voz de uma senhora me chamava atenção. Sentada atrás de mim e à paisana, a benemérita rubro-negra Maria Tereza Botelho, de 87 anos, dava aula sobre o Flamengo, principalmente em relação à geração que conquistou tudo nos anos 80.
Meu desejo era dormir, mas ela não parava de enfileirar nomes da história rubro-negra, desde os craques Zico, Nunes, Lico, Andrade, Mozer e Leandro, seu grande ídolo, a dirigentes como Márcio Braga, George Helal, Luiz Augusto Veloso, Hélio Ferraz e Bandeira. Me rendi, virei-me e entrei no papo. Dona Tereza conversava com dois funcionários da comunicação do Flamengo.
– O Flamengo é paixão, não existe nada igual ao Flamengo. Perguntei para esse moço (aponta para um dos rubro-negros) se ele ia ao jogo, e ele me disse que ia trabalhar. Quer outro exemplo? O meu ídolo é o Leandro. Uma vez, no Maracanã, tinha uma menina muito bonita com a camisa com o autógrafo do Leandro. Eu a disse: “É o meu ídolo”. E ela era a filha do Leandro. A menina fez questão de trazê-lo para falar comigo.
Dona Tereza, que já foi uma atuante integrante da famosa Boca Maldita, grupo político do Flamengo que tem um espaço especial na Gávea, derrete-se quando fala de Leandro. Não se alonga ao explicar por que é seu preferido e não Zico, maior nome da geração dos anos 80.
– É afinidade. Também gosto do Zico. Eu me considero amiga do Leandro. Ele me convida várias vezes para eu ir à pousada dele, em Cabo Frio, mas nunca consegui. Conheci o Leandro quando ele ainda namorava. Ele me emocionou nos últimos dias quando o vi numa entrevista falando do Jorge Curi, que era meu ídolo e dele também. Fala que esteve com o Jorge em seus últimos momentos de vida.
O convívio com Leandro e outros craques daquela estrelada geração deu-se especialmente nos anos 80. Amiga de Ayer Andrade, funcionário do clube por 54 anos e que faleceu em 2014, Dona Tereza combinava uma forma de sempre conseguir se hospedar no hotel do Flamengo durante a disputa da Libertadores de 1981.
– Fui para a Bolívia, Chile, Paraguai e Uruguai. A viagem mais inusitada da minha vida foi ao lado do Cláudio Cruz (ex-presidente da Raça Rubro-Negra) e da Dona Laura (esposa de Jayme de Carvalho, fundador da Charanga Rubro-Negra). Fomos à Bolívia (onde o Flamengo enfrentou o Jorge Wilstermann) no Trem da Morte. Era um trem muito cheio (risos). Também já vim à Argentina contra o River Plate (em 1982) e com o Boca quando o Veloso (Luiz Augusto era o presidente).
Apaixonada pelo Flamengo, Dona Tereza teve outra paixão muito forte nesses 87 anos de vida: Vera Lúcia, única filha que teve. Vera faleceu há cinco anos, e a divertida idosa criou um hábito: viajar para a Argentina constantemente. Lá, fez um grande amigo: Guillermo, um argentino que é gerente da pousada na qual sempre se hospeda, no centro de Buenos Aires. O laço criado com o hermano fará Tereza pague uma promessa que a afastará da torcida rubro-negra.
– Sempre ia para esse hotel, que é muito bom, e lá conheci o Guillermo, que virou um amigo. Ele torce para o San Lorenzo. Disse a ele que, se o Flamengo viesse jogar com o San Lorenzo, eu assistiria à partida ao lado dele. O Flamengo veio, e eu vou ver o jogo com ele (risos) – finalizou.
Com carinho por jogadores e dirigentes do passado, Dona Tereza também tem apreço por Eduardo Bandeira de Mello, com quem já tirou fotos, inclusive, na inauguração do Centro de Treinamento George Helal, em 15 de novembro do ano passado.
– Ele é muito bom para o Flamengo.