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Maracanã em dia de Flamengo x Fluminense – Foto: Pedro Caruso |
REPÚBLICA PAZ E AMOR: Vivi Mariano
Vivemos em tempos líquidos. Nada foi feito para durar. Essa é uma das frases mais famosas do sociólogo polonês Zygmunt Bauman, falecido em janeiro de 2017, aos 91 anos. Bauman não conhecia Márcio Araújo. Mas Zé Ricardo conhece muito bem. E a torcida do Flamengo também. Sem contradição nossa paixão pelo Mais Querido seria uma grande chatice. Por isso tenho paixão por arquibancada. Lugar de conflitos de ideias, paixões, loucuras, de AMOR. Nela entendemos claramente que felicidade é o gozo que dá ao superarmos os momentos de infelicidade. E gozo é GOL DO FLAMENGO. Apesar de vivermos tempos de gozo por balanço financeiro. Banana menina, tem vitamina. Banana engorda e faz crescer.
A cada jogo sigo vivendo um tempo que tenta refazer o que o Flamengo do Márcio Araújo desfez. É um tempo novo, que não tem mais volta, que me transformou em consumidora acima do que sou: torcedora. E consumir é pertencer, afirmam os estudos contemporâneos. Se você não consome os produtos oficiais, não adere ao programa de fidelidade, não assina o PPV, não compra a camisa sem identidade lançada da sobra do estoque, você “não pertence”. E ainda, se não tem dinheiro para pagar os valores estabelecidos com requintes de crueldade para LIMAR a essência do Flamengo do ESTÁDIO, consequentemente, você não tem voz. Não adianta apontar os erros do Márcio Araújo. Não adianta dizer que o técnico é imaturo, teimoso e desprovido de conhecimento de futebol o suficiente para armar um time cheio de jogadores capazes (menos alguns) de cumprir uma orientação tática decente. Agradeçam os serviços prestados, a integridade, o compromisso. Mas, isso aí NÃO é Flamengo. Sabemos que não adianta “gritar” nas redes, no blog, nos grupos de whatsapp. A ordem é consome ou some. Mas, nós sempre teremos a arquibancada. “Apesar de”. Banana menina, tem vitamina. Banana engorda e faz crescer.
Diante disso, Flamengo, prometo te querer até o amor cair doente. Preciso não dormir até se consumar o tempo da gente. Mas eu e meus 11 leitores vamos resistir criando novas formas de viver nosso amor. Sem deixar que tirem de nós a autenticidade máxima do torcedor rubro-negro que é a de AMAR o Flamengo, e amar o modo que amamos o Flamengo. De maneira única, absoluta, soberana. Não amamos como os torcedores do Real, do Barça, do United, do Arsenal, etc. Nós amamos MAIS e urgentemente. Por isso, NÃO aceitaremos JAMAIS uma postura COVARDE em campo, a escalação de jogadores INCOMPETENTES, muito menos as desculpas e justificativas MEDÍOCRES de empates, derrotas e desclassificações. NÃO aceitaremos a banana do presidente. Mexeu com um, mexeu com todos. E todas. Resistir é preciso. Louvamos a gestão da responsabilidade. Louvamos as finanças em dia. Louvamos o pagamento dos Darfs. Louvamos até os que louvam o balanço. Consumir é preciso, torcer não é preciso. BASTA! Tirem as crianças da sala: quem manda nessa porra é a torcida do U R U B U. Essa identidade não podemos perder. NÓS SOMOS O FLAMENGO. Banana menina, tem vitamina. Banana engorda e faz crescer.
Aprendi isso quando vivi o primeiro sapeca iá iá do Flamengo em pleno Maracanã. O time tinha sido goleado pelo BANGU. A torcida estava enlouquecida. Eu, assustada, tinha um grito engasgado na garganta. Mas, não me atrevi. Antes do juiz apitar o final do jogo os clarões começaram a surgir. A orientação do meu velho pai era clara: “NÃO SAI DO LUGAR”. “Mas pai, o moço tá dando um chute na cara do outro bem ali ó?!!!” “V i v i a n e, fica parada.” Resistir é preciso. A sensação da primeira goleada sofrida pelo Flamengo é devastadora. Até que ouvi: “Vamos protestar.” Meu olhinho começou a brilhar: “Eu também, pai?” “Sim, V i v i a n e. Bem alto e forte.” Descemos a rampa do Maracanã, e por mares e corredores nunca antes navegados chegamos na saída do vestiário. Ela estava toda gradeada, mas a proximidade com os jogadores que deixavam o Maraca era “tipo Ilha”. Uma das experiências mais marcantes da minha vida, acho que já contei aqui. Subi na grade para conseguir ver os jogadores. Eu e meu irmão tentando manter o equilíbrio emcima delas. Torcida indignada, revoltada, tocando o terror. Até que os jogadores foram saindo pouco a pouco, um a um, na direção do ônibus da delegação. Neste momento, meu pai olha para mim e diz uma das coisas mais lindas que já ouvi nessa vida: PODE XINGAR. Então, respirei fundo, olhinhos brilhando, me equilibrando na grade, pude soltar meu primeiro VAI TOMAR NO C*. Infelizmente não parei ali. Arão, Márcio Araújo e Vaz que o digam. Zé Ricardo também. Yes, nós temos bananas. Bananas pra dar e vender.
Pra vocês,
Paz, Amor e Fora Zé.