BLOG
DO PVC: As arquibancadas lotadas de Itaquera para Corinthians 1 x 1 São Paulo,
sábado à tarde, elevaram o 13o colocado a um grupo seleto. Flamengo, São Paulo,
Palmeiras e Corinthians têm média de público superior a 30 mil torcedores no
Campeonato Brasileiro.
Desde
1983, não havia quatro clubes com índice tão elevado no torneio mais importante
do país. O Brasileirão de 35 anos atrás foi o de maior número de espectadores
da história: 22 mil/partida. Flamengo, Santos, Vasco e Atlético Mineiro levavam
mais de 30 mil. Era a última temporada com quatro times nesse patamar. O
Corinthians, eliminado sem perder em casa, arrebanhava 28 mil para ver Sócrates
e Casagrande.
![]() |
Foto: Divulgação |
O
ticket médio cobrado pelo Flamengo é de R$ 30. Os valores variam para o São
Paulo (R$ 36), Palmeiras (R$ 57) e Corinthians (R$ 43). Entre os doze clubes
mais tradicionais do país, o bilhete mais barato é o do Botafogo. A média é de
R$ 16. É também o clube grande de menor bilheteria.
O
grande contraste se deu neste final de semana.
O
Botafogo fez promoção do preço do ingresso para lotar o estádio Nílton Santos
no clássico contra o Flamengo. A meia entrada podia ser comprada por R$ 2,50,
valor menor do que o do transporte coletivo de Copacabana ao Engenho de Dentro.
Dividido o valor total arrecadado de R$ 169.885 pelo público de 16.882, o valor
médio do ticket foi de R$ 10. Havia 19 mil torcedores no estádio e menos de 17
mil pagaram para assistir à vitória do Botafogo por 2 x 1. Ano passado,
Botafogo x Colo-Colo, havia 38 mil pessoas no Nílton Santos com ticket médio de
R$ 55.
Quem
disser que a torcida ia ano passado, e não vai neste ano, porque o espetáculo
era melhor ganha uma camisa de seu clube de coração.
No
domingo à noite, o Fluminense fez promoção e cobrou R$ 10 pelo bilhete mais
barato. Havia apenas 11 mil tricolores no Maracanã para o empate 0 x 0 contra o
Sport. Verdade que a torcida carregava a frustração da derrota para o Atlético
Paranaense e não havia perspectiva de boa atuação.
Em
Itaquera, o Corinthians em crise levou 43 mil alvinegros para o empate por 1 x
1 contra o São Paulo. Em média, o bilhete custava R$ 44. A diferença não está
no horário da partida. Ou não haveria 41 mil torcedores para ver o Corinthians
contra o Flamengo numa sexta-feira à noite, antevéspera do primeiro turno da
eleição presidencial.
Há
muitas razões para o público não ir ao estádio, todas exaustivamente detalhadas
nas páginas de jornais e programas de rádio e TV nos últimos quarenta anos. Há
também vários outros motivos para o torcedor ir. Surpreendente é ouvir
discussões sobre por que não há público no atual Brasileirão, olhando exemplos
de Fluminense, Botafogo e Paraná Clube. Este é o campeonato com mais gente nas
arquibancadas nos últimos 35 anos. Veja, não são 35 semanas.
Impressionante
também não haver nenhum movimento para descrever por que o público vai. Há duas
hipóteses do que está levando mais torcida. A primeira é histórica. Quando
times de grande apelo popular disputam a taça, a população reage positivamente.
Isto explica o fenômeno do Flamengo, de volta ao Maracanã, com 47 mil pessoas
por partida, seu melhor índice no Brasileiro desde 1987. Em parte, o velho
fator explica também o sucesso do São Paulo, campeão do primeiro turno.
A
segunda hipótese é mais recente. Os planos de fidelização de Corinthians e
Palmeiras fazem seus fiéis e avantis irem aos jogos inexpressivos por saberem
que a única forma de terem acesso aos jogos decisivos por preço acessível. O
palmeirense só assistirá ao jogo do título brasileiro pagando menos de R$ 30 se
tiver assistido a Palmeiras x Santo André — houve 31 mil espectadores.
Quem
paga caro hoje em dia é quem não é sócio, acorda de manhã e decide se vai tomar
um chope, ir à praia, à piscina de seu condomínio ou ao futebol. No passado,
todos os clubes deixavam a bilheteria aberta à espera de que as pessoas
preferissem ver seu time de coração. É uma lenda que o cimento estava lotado.
Ou a melhor média de espectadores no Brasil não seria de 22 mil, em 1983. Na
Alemanha, hoje, é de 44 mil.
Corinthians,
Palmeiras e, em parte, o São Paulo, com seus planos de fidelidade, dão
preferência ao cliente. Nos últimos quatro anos, aumentaram sua carteira de
fidelidade. Isso se junta ao argumento que sempre valeu, o de que time leva
torcida quando vai bem e não leva quando está mal. Não pode ser só assim.
Também
não dá mais para repetir exaustivamente que os dirigentes brasileiros criaram
um plano de elitização. Dizemos há décadas que a cartolagem brasileira é
incompetente. A pergunta é se ela só foi competente para inventar um
maquiavélico projeto elitista.
A
verdade é que por décadas — e ainda hoje — não houve nem ricos, nem médios nem
pobres nos estádios. É isso que precisa mudar.
O
Brasil tem potencial para levar mais gente aos jogos, o que significará pulsar
o futebol como indústria. Quanto mais gente interessada, mais arquibancadas
cheias, mais impostos pagos, mais empregos gerados.
A
presença aumentou 10% nos últimos anos e crescer mais 10% levará a um patamar
ainda ridículo de 20 mil por partida. Dá para melhorar muito. O primeiro passo
é parar de perguntar por que a torcida não vai e começar a contar a ela que
razões tem para ir.
Postar um comentário