ESPN FC: Por João Luis Jr.
Ao que tudo indica a negociação do Flamengo com Felipe Melo realmente fez água e o jogador continuará no Palmeiras para a próxima temporada. E ainda que o fracasso na busca do seu clube por algum jogador seja normalmente algo a se lamentar, é preciso reconhecer que a “não vinda” do volante palmeirense, com passagens pela seleção e pelo futebol turco, pode ser na verdade o primeiro reforço rubro-negro para 2019.
Primeiro porque, ao contrário do que muitos podem pensar, Felipe Melo não tem o perfil do Flamengo. Deixando de lado qualquer discussão política – eu pessoalmente discordo totalmente do atleta nesse sentido mas entendo que Marcos Braz não vai usar esse critério para contratações – ele já se mostrou, em diversas ocasiões, não apenas violento como desleal. Enquanto clube apreciamos jogadores raçudos, dedicados, dispostos a dar a vida pelo time em campo? Claro. Mas isso envolve muito mais lutar, correr e demonstrar vontade do que bater por trás, socar adversários ou arrumar expulsões aleatórias por puro desequilíbrio emocional. Como qualquer flamenguista bem sabe, Rondinelli se tornou o “Deus da Raça” por ter vontade, paixão e dedicação acima da média, não por gostar de brigar sem motivo ou agredir adversários sem bola.
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Marcelo D.Sants/ESPN |
Depois porque, por mais que talvez o Flamengo realmente precise de mais um volante – afinal, Cuéllar não pode marcar todo mundo, por mais que tente – a posição está longe de ser a mais crítica no clube atualmente e mesmo assim é preciso refletir se um jogador lento como Felipe Melo funcionaria no esquema de jogo que Abel Braga vai tentar implatar no time.
E por fim, não trazer o volante palmeirense é uma forma de evitar alimentar um conceito totalmente equivocado mas que aparentemente passou a dominar o imaginário de vários torcedores após o título brasileiro de 2009, o de que o Flamengo joga melhor com um time formado por jogadores “tranqueiras”.
Afinal, se nosso último grande time foi composto por jogadores de vida extracampo controversa e hábitos não tão saudáveis, nós precisamos de mais jogadores desse tipo se queremos formar outro grande time, certo? Não, errado. O Flamengo de 2009 não ganhou porque Zé Roberto tinha fama de beber, porque Adriano pisava em lâmpadas, porque um ou dois jogadores teriam brigado na concentração por causa da cantora Perlla. O Flamengo de 2009 ganhou porque Zé Roberto jogou tanta bola, Petkovic destruiu tantos jogos, Adriano foi um centroavante tão brilhante, que mesmo apesar disso tudo, de todos esses problemas, a vontade de vencer e a qualidade técnica foram maiores e o título foi nosso.
Nossa história prova isso. Nosso maior ídolo? Zico, um cidadão exemplar cujo principal desvio em sua carreira foi aquele filme da sessão da tarde em que ele vira criança. Nossa maior equipe? A geração do mundial de 81, que claramente sabia bater quando era preciso – naquela época a Libertadores era disputada num coliseu e cada time tinha liberdade de usar 22 tipos de armas brancas – mas que ficou famosa muito mais pelo futebol que jogava do que por qualquer tipo de palhaçada aprontada dentro ou fora de campo.
E claro, é importante lembrar: se jogador tranqueira no Flamengo fosse sinônimo de título, o chamado “bonde da stella” seria responsável por uma era de conquistas e eu realmente não me recordo de ter visto Anderson Pico ou Marcelo Cirino levantando grandes taças com a camisa vermelho e preta.
Ou seja, por mais que o Flamengo precise sim de reforços e tenha mesmo faltado uma dose extra de raça em alguns momentos da última temporada, não é um volante violento e problemático de 35 anos que vai resolver os nossos problemas. Nós, seja como clube, time ou torcida, merecemos mais, merecemos melhor.