O GLOBO: Ao primeiro olhar, Pablo pode enganar. Não seria difícil um desavisado achar que o camisa 92 do Atlético-PR, que entrou na mira do Flamengo, é o típico centroavante artilheiro. Boa postura, 1,85m e os 18 gols marcados e seis assistências em 51 jogos na temporada corroborariam a impressão inicial. Mas o jogador de 26 anos, destaque dos paranaenses na temporada e que foi campeão da Sul-Americana nesta quarta-feira contra o Junior Barranquilla (COL) , tem outros atributos para contribuir na linha de frente do rubro-negro carioca.
Quem acompanha a carreira do atacante alerta: insistir em vê-lo como um camisa 9 típico vai ser prejudicial. Ao jogador e ao time. Por isso, o técnico Abel Braga, futuro técnico do Flamengo, tem que ter em mente que a diretoria não estaria trazendo um novo Fred ou um Pedro.
– Ele cai muito bem no time do Flamengo, desde que o Abel não queira transformá-lo num Fred. São grandes, fortes, mas bem diferentes. Pablo joga mais pelo chão. Se ficarem cruzando para ele o tempo todo, como Fred gostava, ele não vai render – disse o comentarista do Sportv Carlos Eduardo Lino, lembrando que o próprio clube indentificou, via consultoria, que o time atual é extremamente técnico, bem ao estilo do jogador.
Se Pablo não é exatamente um especialista da bola aérea, dividida ou do rebote, o que ele pode acrescentar ao time, que hoje conta com Henrique Dourado, Uribe e Lincoln entre seus centroavantes?
A experiência de ter passado por várias posições dentro de campo, dizem os especialistas. Da base do Atlético-PR, ele ganhou rodagem no Figueirense, em 2013, como meia. Já foi escalado na lateral naquele mesmo ano quando o técnico do time paranaense era Juan Ramón Carrasco.
– O Pablo é um centroavante sem os vícios da função. Ele tem qualidade para buscar o jogo, abrir espaços, dar passes decisivos e, claro, finalizar. É de longe o melhor ano dele no Atlético, fruto também da aposta dos últimos treinadores do clube – diz o também comentarista da Sportv e coordenador de esportes do jornal “Tribuna do Paraná”, Cristian Toledo, que acompanha de perto o futebol paranaense. – Desde Paulo Autuori que Pablo se fixou como titular, mas foi com Tiago Nunes que ele se firmou como o atacante mais avançado do time. Pela capacidade física e pela leitura de jogo
Grafite exalta cabeceio e domínio da bola
Ex-companheiro de Pablo e camisa 9 clássico, o hoje comentarista Grafite, concorda com os colegas. Porém, para quem dividiu o campo com o jogador, ele é categórico: o atacante tem facilidade de fazer algumas funções do centroavante, como o cabeceio e o domínio da bola na área.
Grafite relembra, inclusive, de alguns jogos da Libertadores do ano passado em que Pablo foi o verdadeiro centroavante artilheiro. Num deles, a bola sobrou na área, o ex-jogador estava por perto, mas quem colocou a bola nas redes foi Pablo. Em outro, camisa 92 fez a jogada e sofreu o penâlti. Só não marco gol por o próprio Grafite pediu para bater e ele deixou.
– Quando o 9 não vinha rendendo no time, ele era chamado pelos técnicos e sempre deu conta – relembra.
Nos três últimos anos no clube, depois de ter voltado do Japão, onde jogou no Cerezo Osaka, apenas ano passado destoou. Em 36 jogos só marcou três vezes. Teve um motivo: o pai de Pablo passou por grave problema de saúde que tirou a concentração do jogador e seu desempenhou despencou.
A falta de concentração nos jogos, inclusive, é um dos defeitos apontados por Carlos Eduardo Lino. O atacante, muitas vezes, se desliga da partida.
– Ele se desconecta dos jogos e muitas vezes some entre bons marcadores. Espera a oportunidade perfeita e briga pouco pela bola. Tem que evoluir em competitividade, mas está no caminho – afirma.