ESPN FC: Por João Luis Jr
Tudo começou com a abordagem por Dedé. O tipo de consulta que todo time grande do Brasil meio que tem a obrigação de fazer – o zagueiro é, ao lado de Geromel, o melhor da posição no país e seria titular em qualquer clube do continente – e o tipo de contratação que cairia como uma luva num Flamengo com uma defesa tão frágil.
É uma negociação provável? Nem tanto. Apesar do rubro-negro hoje ter capacidade de fazer boas propostas financeiras – em alguns casos até exageradamente boas – não apenas o Cruzeiro não parece ter a menor intenção de se desfazer do atleta como o próprio Dedé já manifestou diversas vezes sua gratidão pelo clube que o apoiou e acolheu durante suas seguidas lesões, então são pequenas as chances de que o atleta force a barra pra sair, ainda que aparentemente exista pressão para isso do lado dos investidores que são donos de parte dos seus direitos.
![]() |
Paulo Pelaipe e Rodolfo Landim no Flamengo – Foto: Alexandre Vidal |
Foi então a vez de abordar Arrascaeta, outro jogador que com certeza seria uma ótima contratação para o Flamengo, pois a saída de Diego é uma possibilidade real e o meia uruguaio já demonstrou ter muita qualidade. Mas também outra negociação na qual o clube mineiro não teria muito interesse, seja pela importância do armador para a equipe, seja pelo fato de que a venda não resultaria em muito ganho financeiro para o time celeste, que possui apenas 25% dos direitos do atleta.
No caso de Arrascaeta, porém, a abordagem parece ter ao menos surtido efeito no jogador, que diante da perspectiva de receber no Rio de Janeiro o triplo do seu atual salário teria se reunido com seu empresário e dirigentes do Cruzeiro, realizado pressão para ser liberado e até mesmo sofrido uma multa por atrasar sua reapresentação.
Mas e se se por trás desse interesse do Flamengo em atletas do Cruzeiro, que é legítimo, genuíno e plenamente justificado, se esconder uma tentativa de vingança bem mais sutil e elaborada?
Afinal, o Cruzeiro nos últimos anos vem aprimorando um conceito muito ousado de capitalismo esportivo baseado na premissa de que se você não pagar pelas suas contratações você sempre vai ter dinheiro para contratar mais gente. E o Flamengo, junto com clubes que vão desde o Defensor do Uruguai até o Cricíuma, se tornou mais uma vítima dessa engenhosa matemática financeira azul ao vender Mancuello para o Cruzeiro por 6 milhões e receber apenas 1,2 milhões o que, segundo a lógica convencional, é bem menos que 6.
E se a Câmara Nacional de Resolução de Disputas da CBF não faz nada quanto a isso, não terá o Flamengo decidido abordar a questão pelo ângulo da guerrilha psicológica? Afinal, oferecendo aumentos irreais para integrantes chave do elenco cruzeirense, o clube rubro-negro não semeia a discórdia em Belo Horizonte e tenta pressionar o Cruzeiro a finalmente pagar suas dívidas? Não seria o próximo passo assediar também outros integrantes do elenco visando cultivar de vez a insegurança na Toca da Raposa? Por que não consultar sobre Fábio ou Barcos? Por que não oferecer o dobro do salário para o rapaz que se fantasia de raposa e passar a ter dois urubus? Por que não comprar os direitos de imagem da constelação Cruzeiro do Sul fazendo com o que Cruzeiro precise mudar seu nome para “Andrômeda” ou “Ursa maior”?
Porque a verdade é que fica cada vez mais óbvio que apesar do renovado poderio financeiro o Flamengo não está conseguindo ser eficiente na hora de contratar. Chovem propostas milionárias que parecem não se concretizar – Dedé, Gabigol, Bruno Henrique – mas também sobram oportunidades perdidas de contratações simples e eficientes – Ramiro ou o lateral Guga que assinou com o Atlético-MG, por exemplo.
Com isso o elenco segue não apenas tendo as mesmas deficiências com que terminou o ano passado como, diante da saída de Paquetá e a possível ida de Diego para a MLS, talvez esteja até mais fraco. E nesse cenário, por mais que seja divertido ver o terror dos torcedores adversários diante desse Flamengo que parece querer todos os jogadores do mundo, já passou da hora de ver chegar algum reforço que efetivamente vai resolver os problemas da equipe. É preciso buscar os melhores, seria bonito ver o rubro-negro se especializando em táticas de guerrilha, mas para montar um grande time o Flamengo vai ter que ser mais esperto que isso.