GLOBO ESPORTE: Na sua primeira entrevista sobre o episódio que culminou no seu afastamento do Flamengo em 2018, Diego Alves adotou um discurso ao mesmo tempo contundente e vago. O goleiro garantiu que houve uma tentativa de denegrir sua imagem, mas não citou nomes, falou apenas em “diretoria passada”. O tom escolhido pelo camisa 1 causou desconforto em profissionais remanescentes da antiga gestão rubro-negra, que participaram do imbróglio de outubro passado.
Dois desses dirigentes remanescentes participam diretamente do futebol: Bruno Spindel e Carlos Noval, o diretor-executivo da pasta que foi alvo da ira do goleiro na reunião de áspera discussão com Dorival Junior – mesmo que indiretamente.
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Diego Alves – Foto: Alexandre Vidal |
Noval não esteve na bancada ao lado do goleiro na entrevista coletiva do Ninho do Urubu. Diego Alves estava com o vice de futebol Marcos Braz do seu lado direito e o gerente Paulo Pelaipe no lado esquerdo. Um dia antes, o diretor – remanescente da gestão anterior – havia participado da apresentação do zagueiro Rodrigo Caio na mesma sala de entrevistas. Antes, também acompanhou a chegada de Abel Braga.
Noval, de personalidade discreta e pacífica, contrasta com o esquentado antigo executivo da pasta, Rodrigo Caetano. No entanto, em 2018 o atual diretor reagiu e discutiu com Diego Alves no episódio que acabou afastando o goleiro até do dia a dia de treinos com o restante do elenco. A entrevista coletiva desta sexta expôs o diretor, que, por enquanto, segue no clube. Não foi à toa a ausência de Noval ao lado de Diego Alves. O constrangimento ficaria notório.
Consultado pela reportagem, o Flamengo se posicionou informando que normalmente dirigentes não participam das coletivas dos atletas no dia a dia. Mas Marcos Braz estava no CT e quis participar da entrevista de Diego Alves, com a intenção de colocar um ponto final na história de 2018. Pelaipe o acompanhou. Noval esteve o dia todo no Ninho, mas não foi à coletiva.
A coletiva para colocar panos quentes e selar a paz entre Diego Alves e o Flamengo se encaixa na estratégia da nova gestão de contar imediatamente com o goleiro na pré-temporada e na disputa da Florida Cup na próxima semana. Mas ainda deixou em aberto o que de fato aconteceu no fim de 2018.
Na entrevista, Diego Alves disse que ”recebeu porrada” sem nunca ter se recusado a viajar e acusou a antiga diretoria de utilizá-lo para desviar o foco da venda de Lucas Paquetá. Vale ressaltar que o jogo diante do Paraná, cenário de toda a confusão em 2018, aconteceu dez dias depois da divulgação da venda de Paquetá para o futebol italiano.
Permanência de goleiro é decisiva para demissão de preparador
Antes mesmo da entrevista, o GloboEsporte.com apurou que a nova diretoria já havia acatado a vontade de Diego Alves ao demitir o preparador de goleiros Rogério Maia, contratado há exatamente um ano. Na coletiva desta sexta, Marcos Braz chamou para si a decisão e garantiu tratar-se de uma reformulação natural.
– Não tem nada a ver com o Diego. Foi uma decisão minha. Entendemos que queríamos fazer a mudança – disse Braz.
No ano passado, o goleiro se sentiu desprotegido por Rogério Maia quando Dorival o comunicou que seria reserva. Com carreira internacional, o camisa 1 tem personalidade forte e exerce função de liderança, mas a postura dele desagrada a alguns profissionais rubro-negros de dentro e de fora de campo. Procurados pela reportagem, Dorival e Rogério Maia não retornaram os contatos.
Ex-vice de futebol cobra explicação sobre declarações
– É muito fácil ser criticado por alguma coisa que chega por uma informação privilegiada de alguém. Vocês sabem muito bem quem é da diretoria passada. Desviaram o foco da venda do Paquetá para mim.
Foi com essas frases que Diego Alves explicou parte da crise de 2018. Procurado pelo GloboEsporte.com, o ex-vice de futebol da gestão Bandeira, Ricardo Lomba, limitou-se a questionar a quem o goleiro se referia.
– Quero saber a quem ele se refere. Fiz parte da diretoria, portanto gostaria de saber se ele se refere a mim – disse Lomba.
Noval e Bruno Spindel, que era CEO da gestão Bandeira, participaram da venda de Paquetá e seguem no clube.
Numa sexta-feira agitada no Ninho do Urubu, ficou a certeza de que a entrevista coletiva atendeu aos desejos do goleiro e da nova diretoria, mas esteve longe de ser unanimidade no clube.