DIBRADORAS:
Futebol é um jogo que envolve rivalidade, adversários, vitórias e derrotas. Mas
que também – e, principalmente, – envolve vidas. Como aquelas 10 vidas que se
foram de maneira tão trágica no incêndio que aconteceu no Ninho do Urubu nesta
sexta-feira.
É como
se diz e se repete exaustivamente por aí: não é só um jogo. Futebol envolve
sonhos. Como os daqueles garotos de 14 e 15 anos que dormiam no CT de um dos
maiores clubes do Brasil sonhando em um dia poder fazer um gol no Maracanã
lotado com a torcida do Flamengo gritando seu nome.
E
futebol, acima de tudo, envolve seres humanos, que, independentemente das
camisas e escudos que vestem, têm sob eles um coração que bate em uníssono
quando tragédias assim acontecem. Esse futebol, que tantas vezes é violento,
cheio de ódio e irracionalidade, num momento como esse revela suas maiores
virtudes: a união, a empatia, a solidariedade.
Poucas
horas depois que a notícia do incêndio e das vítimas que ele causou foi
confirmada, Fluminense, Vasco e Botafogo, os principais rivais do Flamengo,
fizeram manifestações de consternação e fizeram eles próprios o pedido para que
a rodada de semifinais da Taça Guanabara fosse cancelada. Nunca foi tão rápido
colocar os principais representantes de clubes e federações sentados em volta
de uma mesa para chancelar a decisão mais óbvia: não havia clima para futebol
no fim de semana.
O CRVG lamenta profundamente o trágico incêndio no CT do @Flamengo.— #AquiÉVasco (@VascodaGama) 8 de fevereiro de 2019
A Dir. Administrativa manifesta pesar e solidariedade aos familiares das vítimas, bem como à Direção e a todos os atletas do CRF.
Colocamo-nos à disposição para auxiliar no que for necessário. #ForçaFlamengo pic.twitter.com/3vxnhARplT
Que notícia triste o trágico acidente no Ninho do Urubu. O Botafogo manifesta sua solidariedade ao @Flamengo , a torcedores, a familiares e amigos das vítimas. #ForçaFlamengo— Botafogo F.R. (@Botafogo) 8 de fevereiro de 2019
O Fluminense Football Club lamenta profundamente o incêndio ocorrido no Ninho do Urubu e se solidariza com a dor do Clube de Regatas do Flamengo. Nossos pensamentos estão com as vítimas e seus familiares.— Fluminense F.C. (@FluminenseFC) 8 de fevereiro de 2019
O presidente vascaíno, Alexandre Campello, decretou luto de 3 dias no clube, cancelou todas as atividades e colocou à disposição do maior rival duas assistentes sociais e uma psicóloga para ajudar no atendimento às famílias das vítimas. O Fluminense também decretou luto pelo mesmo período e cancelou as atividades do dia. O Botafogo não foi a campo e fez orações pelas vítimas no clube, além de também ter decretado luto oficial e baixado a bandeira em General Severiano a meio mastro em homenagem aos que se foram na tragédia.
As
manifestações não ficaram somente nos clubes do Rio de Janeiro. Os principais
times do Brasil manifestaram solidariedade ao Flamengo e até mesmo alguns
clubes internacionais usaram as redes sociais para demonstrar apoio num momento
de tanta tristeza.
Assim
como aconteceu no desastre aéreo que vitimou 71 pessoas (incluindo quase o time
inteiro da Chapecoense) em 2016, mais uma vez o futebol se une para
compartilhar a dor do rival. Tragédias como essa nos fazem lembrar sobre o que
é esse esporte por essência: é sobre sonhos, sobre seres humanos, sobre
sentimentos. E por mais que tenham suas diferenças, todo clube de futebol tem
tudo isso em comum também.
As
vidas e os sonhos que foram perdidos no Ninho do Urubu são como as que moram no
alojamento do Vasco, do Fluminense, do Botafogo, ou de qualquer clube do
Brasil. Um acontecimento tão trágico desperta na hora em todos nós o sentimento
de "poderia ter sido comigo". A empatia que está tanto em falta no
futebol (e na sociedade, em geral), aquele exercício de se colocar no lugar do
outro, sempre vem à tona em situações de profunda tristeza que nos chocam e
abalam, como essa.
Uma
tragédia que gerou solidariedade e mobilizou o mundo inteiro a prestar
homenagens. Que fez com que um taxista vascaíno se oferecesse para trabalhar de
graça durante toda a sexta-feira para transportar os familiares das vítimas
para onde eles precisassem. Que teve um jogador da base do Vasco comparecendo
ao Ninho do Urubu para consolar as famílias de vítimas que eram seus amigos.
Que
gerou manifestações de apoio até mesmo das torcidas organizadas rivais, como a
Young Flu, que postou em suas redes uma mensagem de solidariedade destacando:
"em uma sociedade cada vez mais individualista, declaramos que o amparo
deve estar acima de qualquer rivalidade". A Força Jovem, do Vasco, também
prestou condolências, enquanto a Torcida Jovem do Botafogo ofereceu
solidariedade aos familiares.
Esse é
o lado do futebol que sempre deveria prevalecer. O lado humano, que está acima
de qualquer divergência clubística. É em um momento trágico e triste como esse
que lembramos que, dentro de campo, futebol é, sim, só um jogo, mas fora dele
há muito mais EM JOGO. Há vidas, sonhos, e um amor que, por mais irracional que
se faça parecer, é capaz de reconhecer no outro uma dor que poderia ser a sua.
Então para além dessa tragédia, vamos sempre nos lembrar que futebol é muito
mais para unir do que para separar. Dias assim nos ensinam que a rivalidade é
só um detalhe – a essência desse esporte vem do amor que ele desperta acima
dela.
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