GLOBO
ESPORTE: Nada será mais como antes. Nada. Mas o Flamengo começa a escrever uma
nova página na história do Centro de Treinamento George Helal, o "Ninho do
Urubu", nesta segunda-feira. Um recomeço marcado por uma dor angustiante
em um espaço que acostumou-se a mudar ao longo da história.
Depois
da atividade leve na academia seguida de diálogos e orações, no último sábado,
Abel Braga reiniciará para valer a preparação para o Fla-Flu de quinta-feira,
pela semifinal da Taça Guanabara. A partir das 9h30 (de Brasília), o
treinamento no gramado do campo 1, pertinho de onde aconteceu a tragédia da
madrugada da última sexta, voltará a dar vida a um CT marcado pela morte após
35 anos de existência.
Comprado
em 1984 pelo então presidente do Flamengo, George Helal, o local revelou crias
que deram alegrias e retorno financeiro ao clube. Vinicius Júnior, Lucas
Paquetá e Jorge nasceram no Ninho do Urubu e renderam ao Rubro-Negro as maiores
vendas de sua história.
Destes
"ninhos", um contêiner que abrigava 26 filhos se desfez após
explosões de aparelhos de ar condicionado e com ele se foram 10 vidas. O dia 8
de janeiro tornou-se o mais triste da história do CT e do Flamengo.
Antes
de virar uma fábrica de potenciais craques, dinheiro e inúmeros títulos na
base, o Ninho do Urubu, custeado pela verba oriunda da venda de Júnior - homem
que mais vestiu a camisa do Flamengo dentro de campo - ao Torino demorou muito
a engrenar. Foram 26 anos até que passasse a ser usado regularmente.
Confira a cronologia do CT George Helal, o
Ninho do Urubu:
1984 a 1990
No dia
30 de agosto do ano em questão, com a importância de 300 milhões de cruzeiros,
George Helal comprou o terreno onde funcionava o Aviário Soares, à época
comandado por um empresário espanhol.
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George Helal, à esquerda de Zico, presencia renovação de contrato do ídolo acompanhado de Márcio Braga em 1980 Foto: Divulgação |
-
Quando chovia, inundava tudo. Fiz uma obra lá que durou um ano e meio, e todo o
terreno foi aterrado. Deixei quatro campos prontos, só faltando botar a grama,
dois, inclusive, já tinha drenagem. Isso foi em 1990 e a grama só foi posta
mais dez anos depois, em 2004, quando o Márcio voltou.
Hiato de 14 anos
Os
presidentes posteriores a Gilberto Cardoso Filho (em ordem cronológica, Márcio
Braga, Luis Augusto Veloso, Kléber Leite, Edmundo Santos Silva e Hélio Ferraz)
deixaram o Ninho em segundo plano. Márcio, porém, foi quem deu início à
revitalização do CT em 2004.
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Márcio Braga, em 2004, afirmou "acabou o dinheiro" ao falar da crise no Flamengo — Foto: Divulgação |
"Eu amo o Fla"
Ainda
em 2004, no mês de abril, sob o comando de Márcio Braga, o clube lançou a
campanha "Eu amo o Fla". Com a venda de camisas, o Rubro-Negro
arrecadou dinheiro e inaugurou dois campos no aniversário de 109 anos do
Flamengo.
A
revitalização do CT tem uma situação simbólica. Márcio Braga, com enxada em
mãos, foi ao Ninho, acompanhado de atletas, para capinar o gramado.
Em
2005, veio a venda das pulseiras rubro-negras, também fabricadas com o intuito
de reverter fundos para a modernização do Ninho. Dois anos depois, o número 12
foi aposentado pelo Flamengo, e a homenagem à torcida deu origem à campanha
"Camisa 12", com o mesmo propósito que as duas campanhas anteriores.
CT, enfim, passa a funcionar como local de
treinos do Fla
Depois
de treinos isolados anteriores à final da Copa do Brasil de 2006 e outros mais
frequentes em 2009, ano do hexacampeonato brasileiro, o time profissional do
Flamengo passou a trabalhar diariamente no Ninho do Urubu após a chegada de
Vanderlei Luxemburgo, em outubro de 2010.
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Poças inundavam o Flamengo até meados de 2016. A foto é de 2010 — Foto: Divulgação |
- Eu
corri atrás da situação dos contêineres, pois havia visto na Fórmula 1 e achava
muito bacana como montavam aquela estrutura em um mês. O Isaías Tinoco
encontrou. O Zico já havia feito alguma coisa para a base com eles. Encontramos
com o dono, e ele disse que entregava em um mês. A Patrícia aprovou e está até
hoje lá - disse Luxa, em agosto de 2014.
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Luxemburgo orienta Angelim à frente de um dos contêineres, em 2010 — Foto: Richard Souza |
Modernização a partir de 2014
Com o
processo de recuperação financeira do clube promovido a partir da chegada de
Eduardo Bandeira de Mello, o Flamengo retomou as obras do Ninho, em julho de
2014, com o intuito de transformá-lo em um Centro de Treinamento de excelência
e referência no continente.
No ano
em questão, o CT ainda tinha cara de inacabado. Muita terra desde a entrada aos
campos onde os atletas treinavam, estacionamento acanhado e muitas árvores pelo
caminho. Qualquer chuva fazia do espaço um lamaçal.
Com as
obras, o Ninho começou a ter cara de CT. Foi iniciada a pavimentação dos
acessos aos campos, em 22 de novembro foi inaugurada a estátua de George Helal,
que dá nome ao centro.
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CT Flamengo Ninho do Urubu CT George Helal — Foto: Ivan Raupp |
Módulo profissional é inaugurado
Em
2016, o Ninho do Urubu já era bem melhor. A partir de fevereiro, o Centro de
Excelência em Performance, com aparelhagem moderna, funcionava em frente ao
Campo 1 do CT. A recepção já não tinha mais cara de cabine. Havia sido
personalizada com escudo, o nome do clube e uma estátua de um urubu.
Em 13
de dezembro de 2016, enfim, o módulo profissional foi inaugurado. Com pompa,
ídolos e sócios-torcedores, a festa contou com luzes vermelhas e pretas,
pronunciamentos e discursos emocionados. Mas, apesar de muito moderno, este
ainda não era o local definitivo que abrigaria a equipe principal do Flamengo.
A
partir de 2017, começaram as obras para a construção de um novo módulo
profissional, a ser erguido em frente ao Campo 1, próximo à entrada do CT. O
que instalava Diego, Guerrero e companhia passaria a abrigar a base a partir de
2019, mais precisamente na terceira semana de fevereiro.
Em 30
de novembro de 2018, nova festa marcou o Ninho do Urubu. O módulo profissional
era inaugurado em seu lugar definitivo. Estátuas de Zico e Júnior compunham o
ambiente.
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Com presença de ídolos e jogadores, Flamengo inaugura novo CT — Foto: André Durão |
A
cronologia do Ninho do Urubu, que acumulava dias de festa e alegria, teve no 8
de fevereiro de 2019 o dia mais triste da história do CT e do Flamengo.
Explosão de aparelhos de ar-condicionados destruíram um contêiner que alojava
25 adolescentes. Saldo de 10 mortos e três feridos.
O
Urubu agora precisa reconstruir seu Ninho. Assim, poderá bater no peito e ter a
certeza de que possui uma fortaleza. Segura e, de fato, das mais modernas da
América do Sul.
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