PAINEL
TÁTICO: Por Leonardo Miranda
Dizem
que a euforia é uma parte indissociável de ser flamenguista. O oba a oba, a ida
a Tóquio na vitória mais elástica. Jorge Jesus começa a viver essa realidade
divertida e insana ao ver seu time colocado no pedestal após atuação magistral
no Goiás (6 a 1) e criticado após a eliminação na Copa do Brasil para o
Athletico, nos pênaltis, após dois empates com um gol.
Nem 8,
nem 80. O futebol se resume a um jogo de escolhas. Como atacar? Como defender?
Não existe uma jogada ou tática perfeita, capaz de responder a todos os problemas.
O papel da organização é diminuir riscos e fazer prevalecer os pontos fortes,
assim como esconder os pontos fracos.
Os
gols do jogo são um bom exemplo de como funciona esse jogo de escolhas.
Começando pela organização defensiva, a forma do Flamengo de Jesus se organizar
para atacar. O Athletico não viu a cor da bola no início dos dois tempos, como
o indicador abaixo, que mostra os momentos de maior posse e ocupação ofensiva,
mostra.
Essa
forma de se organizar ofensivamente prega que o Fla tenha sempre sete jogadores
no campo de ataque: os dois laterais abertos, os dois atacantes perto dos
zagueiros e Arrascaeta (e depois Vitinho) e Éverton Ribeiro se movimentando no
espaço chamado de entrelinha, no vácuo das linhas oponentes. A imagem abaixo é
um bom exemplo, com o detalhe de Diego estar mais recuado - era ele que ajudava
Cuellar e os zagueiros a iniciar as jogadas. Até Léo Duarte participa da troca
de passes em direção ao gol.
Agora
vamos pensar nos pontos positivos e negativos desse tipo de organização. É tudo
uma sequência lógica. Se o Fla ataca com oito jogadores, isso significa que o
adversário terá que recuar e se defender mais que o usual. Se Gabigol, Bruno
Henrique ou Éverton Ribeiro estão sempre próximos dos zagueiros, isso significa
que o Fla terá mais chances de fazer o gol se a bola chegar rápido na linha de
fundo.
Assim
como na primeira imagem, o Fla se organiza com esse paredão ocupando a área e a
bola no lado. Berrío, que entrou no lugar de Lincoln, fixa os dois zagueiros do
Athletico. Éverton pisa a área, e Gabigol recua para tocar a bola com Vitinho e
Renê. Três jogadores procurando a bola, ou seja, uma triangulação.
O
intuito de toda a organização é bagunçar o adversário. Na sequência do lance,
Vitinho consegue um lance de vitória pessoal. Ele pode driblar em direção ao
gol, mas tem ao menos três jogadores na área para cruzar. Aí entra a
inteligência de Gabigol, que enxergou um espaço vazio nas costas de Wellington.
Correr ali significava receber a bola livre. Se o zagueiro saísse, era Berrío
quem ficaria livre. Dito e feito: gol do Mengão.
Gol do Athletico: como lidar com o avanço
do time?
Já
sabemos que o Flamengo avança bastante suas linhas, coloca muitos jogadores na
área e triangula a bola pelo lado. Sabemos que isso faz o time ficar direto,
vertical, sem toquinho e bem objetivo. Mas quais os efeitos que isso tem lá
atrás? Se sete avançam, logo três ficam na defesa, como forma de proteger de
possíveis contra-ataques - afinal, perder a bola é humano. É pouco? É. E se a
linha defensiva, que avança, fica exposta contra atacantes de velocidade? Como
lidar com esse problema?
O
Flamengo sofreu o gol de empate que levou para o risco dos pênaltis pelo mesmo
motivo pelo qual fez o gol. Numa saída de bola, avançou a marcação porque
queria ter a posse. Veja que o goleiro Santos sai pela direita, e Rafinha tem
como papel sair da linha e subir junto a Vitinho no lance. Não dá pra ver no
lance, mas ele avança por lá.
A
questão é que com o time posicionado para sufocar a saída de bola do Athletico,
é preciso matar a jogada. Ou roubar a bola, ou fazer a falta. Se não faz isso,
a defesa toda está desprotegida e pode correr riscos imensos se alguém explora
esse espaço...que é o que Rony faz no lance, antes de todo mundo. A linha de
defesa do Fla não está avançada ou recuada demais, está no lugar certo. Cuellar
faz o papel dele, que é de pressionar o homem com a bola para deixar a linha de
defesa organizada.
O
problema é um efeito dominó que acontece lá na frente. Quando a marcação lá na
frente não funciona, você precisa matar a jogada do adversário. Porque se ele
avança, vai ter muito espaço e jogadores correndo para trás, o que é um perigo.
Cuellar não mata. O zagueiro, na indecisão entre pressionar o homem da bola,
acaba dando espaço pro belo passe que fura toda a defesa e encontra Rony. Jogar
co linhas avançadas e atacando sempre requer uma boa dose de organização para
matar esses contra-ataques. E é injusto dizer que o Flamengo não teve isso.
Essa foi, talvez, a única chance clara de gol do Athletico.
Dá
para falar muita coisa desse jogo. Dos pênaltis mal batidos, ou das chances
criadas e não convertidas nos momentos de domínio. Em todas não devemos nos
esquecer que Jorge Jesus não tem nem 30 dias de trabalho, e enquanto você lê
esse texto, ele provavelmente está pensando em como corrigir esse erro. Abel
também fazia isso. O mesmo com Barbieri ou Dorival. Técnicos são assim, lidam
com escolhas e riscos o tempo todo. Qual é a sua?
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