GLOBO
ESPORTE: O antigo Maior do Mundo pode "crescer" novamente, mas não é
simples. Nem um pouco. Além do Maracanã hoje ter concessionários temporários -
Flamengo e Fluminense -, há indefinição sobre novo edital e futura
concorrência. E inúmeros entraves para retirar cadeiras e devolver o espaço
mais popular do estádio aos torcedores habituados com a antiga geral.
Em
entrevista ao GloboEsporte.com, o engenheiro João Luis Casagrande, responsável
pelo projeto de estrutura da reforma do Maracanã para a Copa do Mundo de 2014,
alertou para a revisão dos cálculos feitos à época. O projeto previa apenas
lugares sentados e com capacidade de público bem menor.
A
deputada Zeidan Lula, autora do projeto de lei aprovado na última terça-feira,
disse também que o texto autoriza estudos e a futura retirada das cadeiras. Mas
lembra que o governo precisa viabilizar a execução do projeto.
O senhor fez os cálculos da estrutura
desta reforma do Maracanã. O que seria preciso rever com a retirada das
cadeiras?
João
Luis Casagrande: Do ponto de vista estrutural, temos algumas preocupações que
não devem ser esquecidas. A arquibancada do Maracanã foi considerada que teria
cadeiras em todos os seus lugares. Com a retirada, além do aumento de carga
atuante (pois aumenta o número de usuários), consequentemente teremos um
aumento da agitação provocada pelo público. Sempre bom lembrar que o Maracanã
de hoje não vibra. Ou seja, não treme como o antigo pois diversos cálculos
foram feitos para que isso não acontecesse. Com a retirada das cadeiras e seu
aumento de público em um setor, todos estes cálculos deverão ser refeitos. Além
da segurança há o conforto do público. O Maracanã não é utilizado somente para
futebol, mas também para shows e dependendo da cadência da música e da plateia
seguindo a mesma vibração, poderemos ter um grande desconforto ao usuário em
alguns caso podendo até gerar pânico e tudo isto deve ser analisado.
Como que um show de música poderia
impactar nessa possível retirada de cadeiras?
Existe
um exemplo antigo na engenharia. Aconteceu em 1988, quando a Praça da Apoteose,
que foi calculada para a cadência do samba, teve o Hollywood Rock. O público
quando entra em uma cadência determinada fica todo mundo igual. Chamamos efeito
da similaridade, todos fazem o mesmo movimento. Na época, muita gente ficou com
medo e foi feito reforço depois.
O que
quero dizer: quando aumenta o número de pessoas, aumenta a massa que agita.
Hoje aguenta show de heavy metal, porque foi calculado para isso. Claro que
pode aguentar esse aumento de carga, mas tem que ser calculado para isso.
Qual é esse cálculo de massa, de peso, no
estádio? Foi calculado para 80 mil pessoas?
O
cálculo é por área. São 400 kgf/m2 (quilograma por metro quadrado), que é a
norma brasileira de cargas. Todos cálculos têm que ser revistos. Problema não é
o peso, é a agitação deste peso. Se calcularmos uma pessoa com 80 kg, podemos
colocar cinco pessoas no metro quadrado. Mas quando pulam aumenta a carga e o
efeito dinâmico. A norma pede 400 quilos por metro quadrado, mas tem efeito
dinâmico, que é isso que tem que ser calculado.
O texto original falava em oito mil
lugares a mais e depois retirou o número. Se fossem oito mil lugares a mais, o
impacto pode ser muito grande? Precisaria de reforço de estrutura?
Se
haverá a necessidade ou não de reforço, somente depois de todos os estudos feitos
que pode-se dar o tamanho do impacto. Garanto a você que não é somente retirar
as cadeiras que estará tudo resolvido. Para exemplificar, houve um grande
acidente na Arena do Grêmio em 2013. Houve a famosa avalanche feita pela
torcida, mas não havia sido levada em consideração. Os guarda-corpos são de
vidro no Maracanã e não há barreiras intermediárias na arquibancada para isso.
A estrutura da própria arquibancada, os guarda-corpos, as rotas de fuga e
acesso, tudo deve ser reanalisado.
Deputada: “O primeiro passo foi aprovado”
Autora
do projeto de lei ao lado do deputado e presidente da Alerj, André Ceciliano, a
deputada Zeidan Lula, do PT, espera que o governador Wilson Witzel sancione e
dê o próximo passo para que o Maracanã volte a ter espaço sem cadeiras.
-
Claro que é um setor popular em moldes diferentes do que era a antiga geral,
mas o primeiro passo foi aprovado - comentou Zeidan.
A
deputada admitiu que a execução do projeto depende, primeiro, de estudos de
viabilidade e de dinheiro para fazer nova intervenção no Maracanã. E quem vai
bancar uma coisa e outra?
- Para
o início de 2020 não é viável. Precisa de um projeto bem pensado, com os
clubes, com os administradores do estádio. Mas é o governo quem paga. Se os
clubes quiserem contribuir, podem contribuir, evidentemente. Não vamos
interferir nisso, mas vamos acompanhar - diz Zeidan.
Ela
explica que a estimativa inicial de oito mil lugares a mais saiu do texto
original. A quantidade de lugares a mais para o público vai depender
fundamentalmente do relatório a ser feito pelo governo do estado. Ela garante
que haverá pressão política para tocar adiante o projeto.
-
Queremos ingressos populares. Quanto maior o setor, melhor. E não é só o setor
popular, mas garantir também preços populares, com segurança e conforto aos
torcedores.
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