ANDRÉ ROCHA: Foram 43 gols e 12 assistências. Artilharias de Libertadores e Brasileiro, as duas grandes conquistas do Flamengo em 2019, maior ano da história do clube desde 1981. Título de “Rei da América”, principalmente pelos dois gols na virada épica sobre o River Plate na final do torneio continental. Com carisma e estilo particularíssimo, inclusive na comemoração dos gols. Ídolo de milhares de crianças, muitas que não torcem para o Fla.
Tudo isso aos 23 anos. Coberto de elogios por um treinador europeu e reconhecido no Velho Continente. Jorge Jesus sabe da importância de seu artilheiro. Mesmo pedindo desde sua chegada ao Brasil à diretoria rubro-negra um atacante com características diferentes, um típico centroavante.
Gabriel Barbosa viveu um 2019 iluminado. Mesmo que ele tenha sido artilheiro do Brasileiro e da Copa do Brasil em 2018 pelo Santos, é difícil imaginar o atacante repetindo ou superando os números do ano passado.
Foto: Alexandre Vidal |
Principalmente porque a força motriz desse desempenho está se esvaindo. Gabriel queria (ou ainda quer) voltar para a Europa em alta. Depois de passagens por Internazionale e Benfica indo às redes apenas duas vezes em 15 jogos, retornou ao Santos e depois seguiu para o Rio de Janeiro atrás do sonho da volta. Cada partida era uma chance de provar que as avaliações negativas eram equivocadas.
Agora, caso o Flamengo confirme a contratação do camisa nove, o desejo terá que ser abafado. Ou adiado. Mesmo depois de toda espera com seu staff por uma proposta vantajosa esportivamente – ou seja, de um clube forte e capaz de lutar por grandes títulos. E uma última tentativa, segundo o “Calciomercato”, de convencer a Internazionale a não negociá-lo e inclui-lo no elenco, mesmo sabendo da fortíssima concorrência de Romero Lukaku e Lautaro Martínez.
Com o poder financeiro do clube brasileiro, aditivado pela venda de Reinier para o Real Madrid, o esforço para contratar o jogador, ainda que deixando um percentual para os italianos, é natural. Até obrigatório. Como não tentar manter a principal estrela de conquistas históricas?
Todo negócio, porém, envolve riscos. Ainda mais colocando 16 ou 18 milhões de euros na mesa. O perigo da contratação em definitivo de “Gabigol” é o médio/longo prazo. Como ter o retorno do investimento? Ou o objetivo é construir um ídolo no longo prazo?
Mas há ainda uma outra questão relevante: que jogador vai se apresentar em 2020? O atacante obstinado a provar o seu valor mais uma vez, com números superiores aos de 2019? Ou o que aceita seu destino de ser um jogador de alto nível para o Brasil e para a América do Sul, mas de portas praticamente fechadas nos principais centros? Outra dúvida é se há motivação sem a esperança de mudança de patamar, inclusive na seleção brasileira. Qual o desafio a partir de agora?
As informações de bastidores não são muito animadoras. Um certo deslumbramento depois dos títulos, vida pessoal conturbada e agora o desânimo por ver que foram em vão os esforços para mostrar seu valor à Internazionale.
Gabriel não é ponta, nem centroavante. É um atacante para jogar em dupla. Por isso o sucesso com Bruno Henrique. Mas ainda sofre em jogos com poucos espaços, que exigem uma leitura de jogo mais aprimorada. A excelência está na finalização. Esta, sim, melhorou muito com Jorge Jesus. Simbolizada nos gols sobre o River Plate depois de ser anulado por Pinola durante mais de 80 minutos. Na Europa, porém, não é o suficiente.
O Flamengo acertou ao trazer Pedro, ainda que por empréstimo da Fiorentina. Além de ser o centroavante com as características apreciadas por Jorge Jesus, o time ganha um “Plano B” de alto nível. Se Gabriel voltar sem o foco do ano passado, há um jogador para servir de “sombra”. Ou a solução para novos problemas.