JORGE NICOLA: A Globo teve no Flamengo seu maior aliado durante muitos e muitos anos. Porém, o casamento se transformou em um divórcio que vai caminhar para o litígio. E o presidente da República, Jair Bolsonaro, foi decisivo para o rompimento ao anunciar nesta quinta-feira uma Medida Provisória que muda radicalmente os direitos de transmissão dos jogos no futebol brasileiro.
Importante: no mercado, existe a convicção de que Flamengo e Bolsonaro se aliaram. O Fla acelerou a volta do futebol no Rio de Janeiro, a pedido do presidente da República, e em troca ganhou a MP que o libera para transmitir seus jogos como mandante no Carioca, dando um xeque-mate na Globo.
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Maracanã vazio para Bangu x Flamengo – Foto: Alexandre Vidal |
Primeiro, é preciso explicar o que a MP determina. Ela acaba com o entendimento de que uma partida só pode ser exibida se a emissora tiver acordo com os dois clubes envolvidos. De acordo com o texto, o direito fica restrito ao mandante a partir de agora.
“Pertence à entidade de prática desportiva mandante o direito de arena sobre o espetáculo desportivo, consistente na prerrogativa exclusiva de negociar, autorizar ou proibir a captação, a fixação, a emissão, a transmissão, a retransmissão ou a reprodução de imagens, por qualquer meio ou processo, do espetáculo desportivo”, diz parte da MP.
Presidente do Flamengo, Rodolfo Landim não esconde que trabalhava nos bastidores em busca da alteração na lei. Seu alvo: a Globo, com quem ele negocia sem acordo desde o segundo semestre do ano passado em relação aos direitos de transmissão do Campeonato Carioca. A emissora oferecia R$ 17,5 milhões por cada edição – valor pago aos outros grandes – e o Fla pedia R$ 80 milhões.
Como fica? A partir da MP, que tem prazo legal de 60 dias, prorrogáveis por outros 60, à espera da aprovação do Congresso Nacional, o Flamengo pode mostrar seus jogos como mandante no Carioca na FlaTv ou em qualquer outra emissora concorrente da Globo, como o SBT, por exemplo.
A próxima partida do Fla no Carioca, diante do Boavista, será a primeira com liberação. Pelo menos na teoria. Isso porque a Globo emitiu comunicado na noite desta quinta-feira afirmando que não reconhece a MP para um campeonato que já estava em andamento. Mais: a Globo assegura que a medida provisória não terá efeito no Campeonato Brasileiro com clubes cujos contratos existem, como o próprio Flamengo.
As exceções são, hoje, Athletico Paranaense, Red Bul Bragantino e Coritiba. O primeiro não tem acordo com a Globo no pay-per-view e poderia exibir seus jogos dentro de casa em qualquer plataforma de streaming, como uma conta no YouTube, se assim quisesse. Já Red Bull e Coritiba, que acabaram de subir para a Série A, seguem sem acerto para todas as plataformas: TV aberta, fechada e pay-per-view.
Voltando ao Campeonato Carioca, o Fla praticamente assegurou a primeira colocação do grupo na Taça Rio com a vitória diante do Bangu, e, desta maneira, será o mandante na semifinal. Mais uma oportunidade de exibir seu jogo. Outra coisa importante: se o Fluminense de fato não entrar em campo na segunda-feira e tomar W.O., perderá a liderança na classificação geral do Carioca, permitindo que o Rubro-Negro seja campeão carioca se vencer também a Taça Rio.
MP ajuda ou atrapalha os demais: Está muito claro que a nova interpretação sobre os direitos de transmissão ajudará demais o Flamengo. Mas e os outros clubes? Quais os impactos no futebol brasileiro? A impressão da maioria das pessoas ouvidas pelo Blog é ruim.
A preocupação geral é de que os grandes vão tirar enorme proveito no futuro da oportunidade de venderem seus jogos como mandante, enquanto os médios e pequenos ficarão com receitas muito, mas muito inferiores. Algo bem diferente do que é praticado hoje no próprio Brasileirão, cuja grana da TV aberta é distribuída assim: 40% de forma igual, 30% pela classificação final e 30% pelo número de partidas transmitidas.
Espanha, Inglaterra e Itália também decidiram distribuir o dinheiro da TV de forma mais igualitária, preocupados em garantir a competitividade. Já em Portugal, as tratativas são individuais e representam hoje uma das maiores desigualdades no mundo do futebol, com Porto e Benfica faturando muito, mas muito mais do que os demais.