
O GLOBO: Diogo Dantas
Em meio à disputa pelo título do Brasileirão, a aprovação da captação de R$ 35 milhões em empréstimos junto ao banco BRB, na noite desta quinta-feira, levou parte do Conselho de Administração do Flamengo a questionar mais uma vez o orçamento de 2021, considerado por integrantes do clube como superestimado diante da realidade que se apresenta.
O plenário do Conselho aprovou em dezembro a previsão de receita de R$ 953 milhões, impulsionada pela possível volta da bilheteria, o consequente incremento do sócio-torcedor e a venda de jogadores, sem contar valores de contratos comerciais e de transmissão.
Na ocasião, o otimismo excessivo em tempos de pandemia fora apontado. Quase dois meses depois, ele se manteve nos números apresentados. Embora internamente a diretoria já tenha recuado na expetativa pelo retorno da torcida no primeiro semestre.
Fato é que as linhas que dizem respeito aos três tópicos seguem inalteradas. O que levou a grupos de oposição, em especial ao SóFla, a votar contra o empréstimo e solicitar a readequação imediata do orçamento. A principal crítica é sobre essas três receitas.
O Conselho Fiscal do clube emitiu parecer alertando a diretoria a não contrair mais empréstimos de tal natureza antes de fazer tal reformulação nas projeções. Até o ex-vice de finanças da gestão Rodolfo Landim, Wallim Vasconcelos, ponderou sobre a readequação. O ex-dirigente questionou se a diretoria estava confortável em contrair o empréstimo de R$ 35 milhões ou se achava que precisaria de mais. A resposta foi que não serão necessários novos empréstimos.
A receita de bilheteria tinha como premissa o retorno do público em abril. E a expectativa em orçamento era arrecadar R$ 100 milhões com a volta do público e a perspectiva de chegar longe nas principais competições – Libertadores, Copa do Brasil e Brasileirão.
Agora, já se avalia uma temporada quase inteira sem torcida, o que comprometeria muito os ganhos tanto da bilheteria como dos planos de sócio-torcedor. O Flamengo havia transferido de 2020 para 2021 os pacotes de jogos no Maracanã, e tudo segue estacionado. Portanto, a previsão de R$ 72 milhões em receitas com os planos de sócio dificilmente se cumprirá.
No quesito venda de jogadores, o orçamento projetava R$ 168 milhões em receitas. Em seguida, houve uma readequação informal, para R$ 142 milhões, mas no documento disponível no site do Flamengo nada foi alterado. E a diretoria trabalha com essa meta. Para isso, a estratégia é vender jogadores no atacado, mesmo da base, para não mexer nas principais peças do time principal.
Questionamentos à parte, a reunião para aprovação do empréstimo também teve dificuldades para contagem dos votos por completo. Membros do conselho que votaram contra não tiveram suas escolhas computadas em um primeiro momento. Na sexta-feira, o Conselho de Administração entrou em contato com todos por email e pediu a confirmação dos votos, o que manteve a aprovação com larga margem.
Diretor financeiro do Flamengo, Fernando Góes foi quem apresentou a reunião sobre o empréstimo. Na explanação, não foi detalhado onde a diretoria pretende aplicar o dinheiro, apenas que o montante estava previsto no orçamento. O vice de finanças Rodrigo Tostes apareceu na conferência, mas não deu maiores explicações. O que se sabe é que o valor entra nos cofres do clube para cobrir o fechamento das contas do primeiro trimestre, período em que os contratos de patrocínio são menos rentáveis, assim como outras receitas. A diretoria não se pronunciou sobre os questionamentos.
Nesta sexta-feira, o grupo SóFla emitiu nota em que detalha a sua posição:
“Na noite de ontem, seguindo a recomendação do Conselho Fiscal, o SóFLA votou contra a aprovação de novos empréstimos, sem imediata readequação orçamentária por conta de alterações significativas que se deram apenas 45 dias depois de aprovado o orçamento.
Essas alterações vão contra as questionadas premissas da versão orçamentária original. Descoladas da realidade.
Não achamos prudente a proposta do CoDi de enviar simples uma readequação no meio do ano de 2021, quatro meses após essa solicitação não contemplada o orçamento.
É fundamental que o clube seja rápido na redefinição de caminhos e na validação dos conselhos. O Orçamento do clube não pode ser transformado em uma peça de ficção. Ele deve sempre se basear em premissas razoáveis considerando o cenário interno e externo.
Esse descaso com o processo orçamentário já aconteceu em 2020, quando nossos conselheiros demandaram ao Conselho Diretor a readequação orçamentária dado o contexto de pandemia. A mesma só ocorreu em Outubro. Orçamento é uma ferramenta orientadora, não uma prestação de contas.
Reiteramos nossa demanda pela utilização das melhores práticas de governança corporativa nos processos do clube, para garantir a manutenção de uma saudável e importante estabilidade financeira. A reunião ainda foi prejudicada por problemas no ambiente virtual.
Lamentamos que o Flamengo, quase um ano após o início da pandemia, ainda não tenha investido em formas modernas de reunião e votação em suas reuniões virtuais e híbridas nos seus conselhos, facilitando a participação e voto dos conselheiros.
E isso é motivo de especial preocupação num ano em que teremos eleições gerais do clube em formato híbrido, como determina a nova legislação”.