
BLOG DO ANDRÉ ROCHA: Rogério Ceni assumiu o comando técnico do Flamengo em 10 de novembro e estreou no dia seguinte, jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil contra o São Paulo no Maracanã. Derrota por 2 a 1, confirmando a eliminação sete dias depois no Morumbi com novo revés, desta vez por 3 a 0. Entre as partidas de mata-mata, a estreia no Brasileiro com empate por 1 a 1 com o Atlético-GO.
Na sequência, eliminação também na Libertadores para o Racing com jogos nos dias 24/11 e 1/12. A primeira semana “cheia” de trabalho de Ceni não se refletiu em resultado, nem desempenho, embora tenha sido bem superior ao time argentino no Maracanã até a expulsão de Rodrigo Caio e o gol sofrido logo depois.
Depois, um período de oito dias entre a vitória sobre o Botafogo no Estádio Nilton Santos pelo Brasileiro no dia 5/12 e o duelo com o Santos no Maracanã, dia 13. Goleada de 4 a 1 sobre os reservas de Cuca já com a cabeça totalmente voltada para a Libertadores. O time rubro-negro cumpriu a obrigação, porém sem brilho.
Mais uma semana de preparação para a virada sofrida por 4 a 3 sobre o Bahia decadente que demitiria Mano Menezes, complicada pela expulsão de Gabigol logo no início da partida, com o time vencendo por 1 a 0. Pelo contexto da reviravolta no placar com um a menos, a expectativa era de uma arrancada em busca da liderança.
Seis dias para o jogo contra o Fortaleza no Castelão e empate sem gols com atuação pífia e pênalti perdido por Pedro de forma bizarra. Mais dez dias e derrota de virada no Maracanã para o Fluminense com o time parando de jogar no segundo tempo. Seguido do revés para o Ceará por 2 a 0, também no Maracanã, com quatro dias de intervalo. A virada do ano foi trágica para o Flamengo e as chances de título pareciam escorrer pelos dedos.
Uma semana e um dia depois, na segunda-feira, em 18 de janeiro, uma tentativa de retomada contra o Goiás na Serrinha: 3 a 0, mas sem uma grande atuação contra um time afundado há tempos na zona de rebaixamento. Valeu para resgatar confiança e encarar o Palmeiras no Mané Garrincha no dia 21. Enfim uma atuação sólida no triunfo por 2 a 0, talvez pela mobilização em um jogo decisivo, contra o maior rival interestadual dos últimos anos e que vinha de um 4 a 0 contundente sobre o Corinthians. Mas precisou de um gol contra grotesco do zagueiro Luan e da finalização precisa do jovem Pepê, que entrou no segundo tempo, para construir o placar.
Tudo pareceu ruir na derrota por 2 a 1 para o Athletico-PR em Curitiba, com nova atuação muito abaixo e interferências mais que questionáveis de Ceni nas substituições. Com a queda vertiginosa do São Paulo, mas a arrancada do Internacional de Abel Braga, era preciso vencer o Grêmio em Porto Alegre para manter as chances matemáticas.
Um primeiro tempo de razoável para bom na Arena, mas sem aproveitar as chances criadas e vacilando novamente atrás, com Diego Souza se antecipando a Willian Arão e Gustavo Henrique para abrir o placar. A execução do 4-2-3-1, com De Arrascaeta mais centralizado por trás de Gabigol e Bruno Henrique aberto pela esquerda, mais uma vez não foi eficiente.
Então veio o “click” na volta do intervalo. Muito provavelmente algo que não foi treinado, uma mudança dentro do vestiário. Certamente em acerto com os jogadores, até porque era algo que já estava na memória deles: volta ao 4-4-2, porém com mais mobilidade. Bruno Henrique foi jogar com Gabigol na frente, mas sem guardar posições. Arrascaeta foi jogar pela esquerda e também circular, junto com Everton Ribeiro partindo da direita, nos espaços às costas dos volantes gremistas.
Foram 45 minutos espetaculares, especialmente os 20 primeiros que construíram a virada por 3 a 1 para finalizar o placar em 4 a 2. Destaque especial para Gabigol, que ressurgiu com gol e assistências. Porque o time retomou em vários momentos o volume avassalador de 2019, sob o comando de Jorge Jesus.
Nenhum demérito para Ceni se ele se acertou ou foi convencido pelos atletas a mudar. A história mostra exemplos muito bem-sucedidos de ajustes sem hierarquia entre técnico e jogadores. Como a seleção de 1970, na interação entre Zagallo e lideranças como Carlos Alberto Torres, Gerson e Pelé para montar a equipe, ou no próprio Flamengo, com Paulo César Carpegiani consultando Zico e Júnior antes de efetivar Lico no time que, transformado, arrancou para conquistar Libertadores e Mundial no final de 1981.
Proposta mantida nos 3 a 0 sobre o Sport em Recife, nos 2 a 0 em cima do Vasco no Maracanã e também no empate por 1 a 1 com o Red Bull Bragantino no Nabi Abi Chedid. Todos com três dias de intervalo, praticamente sem tempo para sessões de treino. O lamento por conta dos dois pontos perdidos em Bragança virou alegria pelo conquistado depois do revés do Internacional em casa contra o Sport, associado com os empates de São Paulo com o Ceará e entre Fluminense e Atlético-MG.
A boa notícia é que o Flamengo, um ponto atrás do Colorado, volta a depender de si para ser campeão. Mas pode também ser um mau presságio, já que o atual campeão brasileiro falhou ao longo da competição na hora de assumir a ponta. Nunca terminou uma rodada na liderança.
Tem a chance neste domingo, dia 14 de fevereiro, na 36ª e antepenúltima. Duelo com o Corinthians no Maracanã. Voltando a ter sete dias de preparação. Se vencer e o Inter não superar em São Januário o Vasco desesperado para fugir do Z-4, o campeonato pode ser resolvido no domingo seguinte, dia 21, no confronto direto entre os dois primeiros colocados.
Mas para isso o Fla terá que ser firme. Concentrado defensivamente e contundente no ataque. A grande questão é: qual time estará em campo nessas partidas decisivas: o que se acertou “no papo” nessa sequência recente de jogos ou o oscilante justamente no momento em que teve mais tempo para se preparar?
No melhor cenário, as ideias das últimas três partidas e meia seriam trabalhadas nos treinos tão elogiados por atletas e dirigentes desde a chegada de Rogério Ceni. Mas a resposta só virá na prática contra o Corinthians. A primeira das três “finais” do Flamengo para buscar o bi.