
ESPN: Carlos Sartori
Morei no Rio nos últimos cinco anos. Além das belezas naturais, o que mais me chamou atenção foi entender o que significa ser Flamengo. Com certeza, é muito mais do que uma torcida. É religião de janeiro a janeiro. Não tem como ficar passivo assistindo a um jogo do Mengão em um boteco. A torcida invade geral, lota os locais, com o manto sagrado. Faz festa e vibra como poucos. Confesso, nunca vi nada igual. Ver um jogo no Maracanã, com a vibração de 60 mil rubro-negros, é inesquecível!
Por isso, ver mais uma vez o AeroFla em ação, dessa vez distante, em São Paulo, me trouxe uma saudade absurda da cidade maravilhosa. Do Rio 40º, mesmo em um dia de chuva. Só mesmo a nação rubro-negra para sair às ruas em um dia feio, chuvoso e fazer o que fez. Geralmente, quando o clima está ruim, as praias ficam desertas. O carioca desaparece. Chuva não combina com eles. Poucos se atrevem a passear na orla. Mas o verdadeiro flamenguista, pelo seu time, esqueceu que não era dia de praia e foi à luta. Como diz o hino: “uma vez Flamengo, sempre Flamengo”.
Mas, poderia ser outro hino, também. Como o destino do bicampeão brasileiro era Porto Alegre, antes da decisão da final da Libertadores contra o Palmeiras, dia 27 de novembro, lembrei do hino do Grêmio, adversário da próxima terça-feira (23). E que fique claro que não é desrespeito ao time gaúcho e, sim, uma homenagem para um dos hinos mais lindos que existe.
Diz a letra: “Até a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos, com o Grêmio onde o Grêmio estiver”.
Fico imaginando o que os estrangeiros pensam quando vêm imagens como as veiculadas, nesta sexta-feira (19). Milhares de pessoas caminhando atrás de um ônibus com destino ao Aeroporto Internacional Tom Jobim, me nego a chamar de Galeão, mesmo sabendo que o maestro soberano era torcedor do rival Tricolor. Incrível ver torcedor arriscando à vida em cima de um ônibus para bater um papo com os ídolos. Mas, a imagem que mais me emocionou foi a de um barquinho, sob a ponte, com um torcedor segurando a bandeira do Flamengo. Verdadeira poesia. “O barquinho vai, a tardinha cai…”.
Aliás, por falar em poesia, defendo que a palavra “AeroFla” seja incorporada aos dicionários. Ela denomina um novo hábito e ação comum no nosso cotidiano. O mundo muda, se transforma. Ela tem um significado importante. Quem viu a cobertura esportiva desta sexta percebeu que a palavra “AeroFla” estava escrita, em caracteres, ou lettering, como preferir, na tela das TVs, ou neste sábado, nas manchetes de jornais. Virou até hashtag.
Muitas palavras estrangeiras utilizadas na linguagem cotidiana já estão nos dicionários: “Blogar, tuitar, test drive”. Até “Ricardão”, o amante brasileiro ganhou respeito. Por que não AeroFla? Essa é fácil explicar: “torcida apaixonada do Flamengo que acompanha a pé o ônibus do time até o embarque no aeroporto antes da busca de um título importante”. Quem me apoia nessa campanha?
A torcida do Flamengo deu mais um exemplo de união, alegria, apoio ao time. Mostrou ser diferente. E que infelizmente só não vai a pé atrás do seu time amado porque o futebol virou um negócio muito caro. Se tornou um esporte para quem tem dinheiro. O povão não tem grana para ir ver um jogo no Uruguai. Ingressos caros, passagens aéreas absurdas e hotéis a peso de ouro.
Ah, se esse jogo fosse no Maracanã… O templo do futebol ficaria pequeno para essa torcida chegar em procissão gritando “é campeão”.
Se o Flamengo não faturar o título da Libertadores, o de melhor torcida já ganhou disparado.
Ou alguém tem dúvida?