
O GLOBO: Tatiana Furtado
Após três meses, o Maracanã apresentará ao público —e, principalmente, aos jogadores — a sua grande novidade para o ano e uma promessa: um gramado totalmente novo, com sistema híbrido de grama natural e artificial (10%), capaz de aguentar o peso de 70 partidas ao longo da temporada. A primeira delas será em grande estilo, com casa cheia no reencontro com a torcida. Apesar do jogo de pouco apelo pela última rodada da Taça Guanabara, o já classificado Flamengo enfrentará Bangu, neste sábado, às 19h30, com mais de 50 mil pessoas – os ingressos de alguns setores do rubro-negro já esgotaram.
Além do gramado híbrido, um gostinho de saudosismo do velho Maracanã poderá ser apreciado. Por causa das obras para a Copa do Mundo, que padronizou os estádios no Brasil a pedido da Fifa, a rede “Véu de Noiva” havia sido aposentada.
Agora, ela retornará em nova estilo. A cauda, responsável pelo estufar da rede quando a bola entra no gol, estará lá. O caimento, porém, será diferente.
— A aceitação do público nas redes quando anunciamos foi fantástica. Quisemos dar uma contribuição para matar as saudades daquele Maracanã — disse o CEO do Maracanã, Severiano Braga. Ele, no entanto, sabe que o retorno de um item icônico do estádio não bastará para acabar com as costumeiras críticas em relação ao gramado.
A tecnologia utilizada já foi experimentada em gramados europeus e sul-americanos, como do River Plate, da Argentina. Consiste na técnica de plantio do gramado diretamente na caixa de areia do campo aliada ao uso de 10% de grama artificial de forma proporcional em toda a área.
Um maquinário belga foi o responsável pela introdução das fibras artificiais num longo processo, no qual 88 agulhas injetavam o material na caixa de areia a cada dois centímetros.
Conforme a grama natural for crescendo, um cortador especial será utilizado para manter todo o gramado na mesma altura.
— A fibra entra na parte que teria grama natural, melhora a drenagem, se entrelaça nas raízes e o furos na areia ajudam na nutrição delas e das folhas — explica Braga, ressaltando que o modelo anterior, com a grama plantada fora do Rio e transportada em rolos, tinha recuperação mais lenta. — Para fazer o rolo é colocada uma camada de argila, que vai em cima da caixa de areia. Com o tempo, a argila vai endurecendo e dificulta a passagem de nutrientes.
Para além do tipo de tecnologia, a grande questão do gramado do Maracanã é o volume da utilização. Segundo Severiano Braga, nenhum estádio do mundo recebe tantas partidas quanto a casa do futebol carioca. O CEO estudou locais que usaram o misto grama Bermuda (que se adéqua bem ao calor) com artificial. Porém, em média, esses lugares sediam metade do número de jogos.
Ano passado, por exemplo, por causa do calendário de 2020 e 2021 misturados num único ano, o estádio recebeu 72 partidas — em 2020, por causa da pandemia, foram 42. Em alguns momentos do ano, o Maracanã ficou fechado justamente para manutenção do gramado.